São oitenta e dois textos, publicados originalmente em jornais e revistas, entre 1992 e 1995. Apesar desses vinte anos lê-se cada um deles com bastante proveito, pois os ensaios e reflexões literárias de Enrique Vila-Matas são realmente mais robustas que resenhas ligeiras ou meras críticas de encomenda - estou seguro que ele só escreve sobre o que realmente gosta. O ritmo das narrativas é o mesmo que se encontra em dois outros livros dele que já li: "El viajero más lento" (onde ele reuniu toda sua produção ensaística anterior a 1992) e "El viento ligero en Parma" (com textos do início dos anos 2000). Os ensaios que são posteriores a "El traje de los domingos" e anteriores a "El viento ligero en Parma" estão reunidos em "Desde la ciudad nerviosa" (mas esse eu não li ainda). A curiosidade de Vila-Matas parece infinita, ele fala do poder (e da necessidade) da crítica, de suas viagens para participar de encontros literários e reencontrar amigos escritores, dá pistas sobre a gênese de sua ficção. Alguns autores são recorrentemente citados: Gombrowicz, Kafka, Rossell, Benet, Tabuchi, Monterroso, Pessoa, Nabokov, como se formassem um panteão de influências reconhecidas. Há muito humor nas histórias, mas um humor que abre caminho para reflexões sérias, bem argumentadas. Em um artigo ele compartilha a surpresa de ser sempre convidado para emitir opiniões sobre qualquer assunto mundano (política, costumes, economia, cultura) porém muito raramente sobre seu ofício, a literatura e a obra de outros autores. Noutro ele conta divertido como perdeu uma recepção com os reis de Espanha por chegar cedo demais ao palácio e perder-se em uma conversa num bar. Sua descrição de como foi confundido em Paris com o terrorista venezuelano Carlos, o chacal (um dos mais procurados dos anos 1970 e 1980) é hilária (em nossos dias mais tensos ele teria sido morto por engano ao invés de ser apenas imobilizado e preso até ser reconhecido como de fato um escritor catalão expatriado). Além dos 82 ensaios também estão incluídos seis prefácios de livros, textos onde Vila-Matas apresenta livros de Louis-Ferdinand Céine, Robert Louis Stevenson, Antón Castro, Barbey D'Aurevilly, Pedro Domene e Soledad Puértolas. É fato, sempre se lê Vila-Matas com alegria.
[início: 17/10/2014 - fim: 30/10/2014]
"El traje de los domingos", Enrique Vila-Matas, Madrid: Huerga y Fierro editores (La rama dorada), 2a. edição (2006), brochura 14,5x22,5 cm., 319 págs., ISBN: 84-88564-48-1 [edição original: (Madrid: Huerga y Fierro) 1995]
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