quarta-feira, 1 de julho de 2015

bom dia, camaradas

De Ondjaki só havia lido "os da minha rua", publicado em 2007, uma boa coleção de causos travestidos de contos (ele os chamou de 'estórias'). "Bom dia, camaradas" é um de seus primeiros romances, de 2001. É um livro simples, quase ingênuo demais, de um autor que parece ainda aprender seu ofício e as possibilidades de seus métodos. Trata-se de um livro claramente autobiográfico. Ele emula a voz de um menino, um jovem estudante, não mais que 12, 13 anos, que narra o que vê de seu entorno. Mas o leitor sabe que apenas um adulto entenderia de fato aquele entorno terrível que é a capital de Angola, Luanda, do final dos anos 1980. Angola vive os momentos finais de uma guerra civil que tomou 25 anos e provocou centenas de milhares de mortos. O que o menino vê é algo terrível, violento, infernal, mas como ele não tem consciência disso, poupa o leitor de boa parte da crueza e desperdício daquilo tudo. Ondjaki brinca com a língua, tenta fixar no texto a oralidade veloz de seus colegas de escola e os diferentes registros que cada personagem adulto utiliza, principalmente os professores cubanos do menino, que se fazem entender por um espanhol aportuguesado. Os alunos são avisados da visita iminente de um inspetor geral do governo central, mas eles parecem mais interessados em saber se um grupo conhecido por "Caixão Vazio"  - o que hoje poderíamos sem medo chamar de um bando de terroristas - irá atacar ou não a escola. Apesar dos sucessos desse ataque ser o ponto central do romance gostei mais de como Ondjaki descreve a estranheza entre o menino e uma tia portuguesa, que não entende nem o linguajar nem as regras de comportamento daquele país (uma patética ditadura comunista, claro). Mais interessante que o registro cômico dessas conversas entre menino e tia são as aparições de um agregado da família, o camarada Antônio, uma espécie de faz-tudo que é a personagem mais discreta e poderosa do livro. Os episódios que o menino vê e interpreta se sucedem rapidamente. Em algum ponto o narrador como se cansa de sua história e termina o livro. Não se tratava de algo muito empolgante mesmo mas, de qualquer forma, procurarei algo recente de Ondjaki para tentar entendê-lo melhor. Vale.
[início: 17/06/2015 - fim: 29/06/2015]
"Bom dia, camaradas", Ondjaki, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 135 págs., ISBN: 978-85-359-2376-6 [edição original: Bom dia, camaradas (Lisboa: editorial Caminho / Grupo LeYa) 2001]

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