segunda-feira, 29 de junho de 2015

hotel savoy

De Joseph Roth apenas li o último de seus livros: "A lenda do santo beberrão", que é de 1939. Noutro dia encontrei "Hotel Savoy", que é um dos primeiros, de 1924. Trata-se de um história curta, que descreve um mundo de imobilidade, letargia, paralisia, tanto física quanto emocional. O narrador é Gabriel Dan, um refugiado da primeira grande guerra que assim como milhares de outros volta da Rússia revolucionária, a Rússia dos Soviets. Ele interrompe sua viagem rumo ao oeste europeu numa cidade não nominada (que é sua cidade natal e que provavelmente faz parte da Polônia). Assim como todos os demais refugiados ele imagina ficar ali apenas um par de dias, somente o tempo de conseguir algum dinheiro com um tio que outrora fora bastante próspero, mas como por um encanto acaba permanecendo na cidade. O hotel em que se hospeda é um microcosmo da cidade, do país e do mundo daquela época conturbada. Tudo é provisório, a incerteza e o medo impedem as pessoas de tomarem decisões, de se afastarem daquele lugar enfeitiçado. Gabriel entende que seu tio e primo vivem ainda sob as regras de um passado já destruído, que jamais voltará. E percebe também que ganhar dinheiro não é uma ocupação associada ao trabalho, a virtude, a valores morais, mas sim resultado da sorte (com o câmbio favorável do dia, a chegada de um amigo, a necessidade de alguém por um favor). O crescente número de refugiados, as greves dos trabalhadores das indústrias do local, a ausência de autoridade constituída parecem indicar que a guerra voltará a acontecer, cedo ou tarde. Roth descreve o tipo de pessoas que vivem no hotel: artistas, empresários, prostitutas, veteranos de guerra, velhos funcionários e desocupados em geral (como Gabriel e um amigo seu dos tempos da guerra, Zwonimir, convertido à causa revolucionária). A notícia da chegada iminente de um rico americano traz alguma esperança a todos do hotel e da cidade, mas essa expectativa não pode se concretizar. Roth consegue registrar em seu livro o quão terrível é viver em um mundo que desaparece lentamente, em câmera lenta, sem ser interrompido por nenhuma força (nem a fé, nem a esperança, nem a vontade, tampouco a disciplina e a ordem). Não são apenas os deuses que um dia experimentarão o seu crepúsculo.
[início: 21/06/2015 - fim: 25/06/2015]
"Hotel Savoy", Joseph Roth, tradução de Silvia Bittencourt, São Paulo: Estação Liberdade, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 183 págs., ISBN: 978-85-7448-229-3 [edição original: Frankfurter Zeitung (Berlin: Verlag Die Schmiede) 1924]

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