Em "Remédios mortais", oitavo romance da série de volumes dedicados aos sucessos do detetive Guido Brunetti, Donna Leon nos apresenta uma questão sobretudo moral. A exemplo dos volumes anteriores a trama é bem organizada; as digressões pela alta cultura interessantes; os personagens, complexos; os desdobramentos do crime, críveis; a ilusão da presença física de Veneza em nossa imaginação, notável. Paola decide seguir seu instinto e cometer um crime menor para combater a sua maneira um crime maior. Mas os cidadãos podem fazer escolhas assim, agir segundo seus particulares critérios morais? Os mitos gregos voltam a povoar magistralmente a narrativa de Donna Leon. As regras de convivência entre mulheres e homens quando casados ou vivendo juntos ganham relevo, conduzem a trama mais mundana, rasa, dos crimes que são investigados. Trata-se de um volume calmo, camerístico, de sombras que se acumulam. Os sucessos acontecem no início de novembro, faz frio, a celebração do dia de finados contamina os humores dos protagonistas. Brunetti sonha com a possibilidade dos livros o levarem para longe dos problemas, mantê-lo afastado do sentimentalismo barato do final de século, da alucinação do milenarismo. Pobre Brunetti, não sabe que quase vinte anos se passaram desde o início de um novo século, e os problemas continuam exatamente os mesmos, tanto em seu país quanto no mundo, somente ganharam novas roupagens, novos atores, nova cenografia. Envelhecer, ele bem sabe, é um exercício de resignação, de estoicismo. Vale!
Registro #1254 (romance policial #68)[início: 02/11/2017 - fim: 03/11/2017]
"Remédios mortais (Brunetti #8)", Donna Leon, tradução de Carlos Alberto Bárbaro, São Paulo: Editora Schwarcz (Grupo Companhia das Letras),
1a. edição (2012), brochura 12x18 cm., 258 págs., ISBN:
978-85-359-2188-5 [edição original: Fatal remedies (London: William Heinemann / Penguin Randon House Group) 1999]
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