O irlandês Jonathan Swift viveu entre 1667 e 1745. É bastante conhecido por
seu livro "Viagens de Gulliver", sobre o qual mesmo quem nunca
o leu verdadeiramente pode dizer que conhece e eventualmente gosta. É
reconhecido como um dos maiores satiristas da língua inglesa. "Instruções
para os criados" é - como o título promete - um conjunto regras
dirigidas aos serviçais de um senhor (trata-se de trabalho ficcional produzido
na primeira metade do século XVIII, portanto não há razão para que termos
politicamente corretos do século XXI, como colaboradores, trabalhadores ou
cousa que o valha, sejam aqui hipocritamente utilizados). Apesar de haver
registros da existência dessas instruções desde 1731, elas somente foram
publicadas postumamente. As instruções correspondem a regras gerais para todos
os criados e instruções específicas para cada um, do mordomo a cozinheira, do
lacaio ao cocheiro, e assim por diante, para porteiro, aia, leiteira, ama, governanta e todos os demais (a
lista alcança dezesseis indivíduos, Swift foi deão da catedral de São Patrício boa parte de sua vida adulta, deve ter tido mesmo muita gente trabalhando para si). Não é fácil ler esse ensaio satírico de
uma vez só. Claro, é brutalmente engraçado, cínico à exaustão, inverte todos os
sinais do que possa ser certo ou errado no desempenho das tarefas do dia a dia
dos criados, mas é muito repetitivo. O humor ácido sempre indica como correto
exatamente o contrário daquilo que o senhor espera que seja realizado, para sua saúde física ou economia financeira. Nas
primeiras instruções a narrativa funciona, o sarcasmo provoca um mais que um esgar, mas logo o acúmulo de clichês passa a incomodar
o leitor. Desisti deste livro várias vezes, mas minha curiosidade sobre o alcance da verve ferina de Swift sempre foi mais forte. Enfim, divertido, porém só em pequenas doses, um pouco de cada vez. Vale!
Registro #1340 (crônicas e ensaios #235)
[início 01/10/2018 - fim: 06/10/2018]
"Instruções para os criados", Jonathan
Swift, tradução de Priscila Catão, Belo Horizonte: Editora Âyiné
(coleção Biblioteca Antagonista #4), 1a. edição (2016), brochura 12x18 cm., 133
págs., ISBN: 978-85-92649-04-3 [edição original: "Directions for
servants" (London: R. Dodsley and M. Copper) 1745]
2 comentários:
Em geral, se um livro não agrada, abandono logo. Às vezes, vou até o fim, mas lendo com raiva ;) Por exemplo, o da Ludmila Petruchevskaia, li com raiva até o fim, detestei. Abraços ;)
Oi Paulo, Grande abraço. Não conheço essa russa. Vou procurar. Valeu. Eu tento ler rápido as coisas. Em geral se começo a não gostar abandono o livro é ele nunca aparece nos registros. Mas como esse é pequeno de tempos em tempos voltei e lia mais um pouco. Grande abraco
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