Foi Luiz-Olyntho, querido amigo, em fevereiro do ano passado, no dia do lançamento do opus magnun de Abdon Grilo (seu potente estudo sobre o Ulysses de James Joyce), quem me cantou pela primeira vez essa joia rara de Marco Valério Marcial, editada pela Ateliê. Demorei, mas encontrei meu exemplar. Agora ele está aqui, perto de mim, todavia ainda estranhando seu lugar no coração selvagem de minha biblioteca. "Epigramas" é um livro arte, de um livro objeto, um pequeno milagre, pois sobreviveu aos séculos. Nele está reunido um robusto conjunto de 219 epigramas de Marcial, um "catalão" romano que viveu no primeiro século da era cristã. Epigramas são aforismos poéticos, cousas engenhosas que acrescentam à máximas aforísticas em prosa algo de invenção poética, algo de beleza, algo único que só os poetas sabem produzir. Alguns são curtos, curtíssimos, outros mais longos, quase registros de um diário, não exatamente epigramas, mas sim apontamentos de alguém que sabe aproveitar a vida, ri de si e de seus semelhantes. O tom sempre é dúbio, satírico, remonta a uma festividade, uma alegria incontida, um sarcasmo duro (isso talvez diria um acadêmico, um scholar, um homem das letras profissional). Eu mesmo leio essas pequenas máximas com uma espécie de sociologia selvagem, um compêndio de fofocas, de descrições de comportamentos sexuais, de bobas frases de duplo sentido, um manual de wit, de sagacidade, do tipo que usualmente costumamos associar também aos ingleses, talvez aos ingleses de um tempo mais afortunado. Enfim, Marcial parecia ter a inusual capacidade de resumir em breves aforismos o espírito de sua época, algo que lhe granjeou sucesso literário ainda em vida, sendo bastante conhecido tanto na Roma imperial, quanto nas províncias mais afastadas. A edição é bilíngue, e as notas, seleção, tradução e posfácio assinados por Rodrigo Garcia Lopes. O volume é composto por doze cadernos grampeados, presos por elásticos (e doze é exatamente o número de livros que Marcial publicou em vida, um mimo dos editores). Os cadernos, que são independentes, podem ser lidos simultaneamente por várias pessoas, em uma festa ou encontro literário. Acho que pode funcionar. É isso. Segue o baile. Vale!
Registro #1430 (poesia #115)
[início: 02/02/2018 - fim: 16/06/2019]
"Epigramas", Marco Valério Marcial, tradução de Rodrigo Garcia Lopes, Cotia/SP: Ateliê Editorial, 1a. edição (2017), 14 cadernos grampeados, capa-dura, presos com elásticos, 14x21 cm., 522 págs., ISBN: 978-85-7554-80752-2 [edição original: circa 86 d.C.; organização original em inglês: Epigrams (D. R. Shackleton Bailey, Cambridge: Harvard University Press) 1993 e (Walter C. A. Ker, Cambridge: Harvard University Press) 1968]
Registro #1430 (poesia #115)
[início: 02/02/2018 - fim: 16/06/2019]
"Epigramas", Marco Valério Marcial, tradução de Rodrigo Garcia Lopes, Cotia/SP: Ateliê Editorial, 1a. edição (2017), 14 cadernos grampeados, capa-dura, presos com elásticos, 14x21 cm., 522 págs., ISBN: 978-85-7554-80752-2 [edição original: circa 86 d.C.; organização original em inglês: Epigrams (D. R. Shackleton Bailey, Cambridge: Harvard University Press) 1993 e (Walter C. A. Ker, Cambridge: Harvard University Press) 1968]
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