Esse curto ensaio foi preparado originalmente como uma palestra na Stanford University, em 2007. McEwan parte da invenção da fotografia, que congela imagens e tempo desde meados do século XIX, para refletir exatamente sobre o fluir do tempo, sobre nossa mortalidade, sobre o porvir, o futuro, futuro de cada um de nós e de toda a humanidade. Calcado sobretudo num livro de Norman Cohn, The Pursuit of the Millennium, McEwan discute o apocalipse cristão, o milenarismo e sobre as inúmeras seitas que ao longo dos séculos apregoam a iminência do final dos tempos, da morte completa e extinção dos homo sapiens. Trata-se de um ensaio produzido por alguém imune à fé religiosa, da ideia de exista um deus que povoe os céus e nos vigie, controle ou puna. Sua palestra basicamente oferece à audiência, sugere, talvez seja o termo mais apropriado, que não há evidência em nosso passado que possa nos fazer crer em um futuro predeterminado, fixo, previamente decidido por alguma deidade e descrito em algum livro santo ou por alguma revelação mística, que indivíduos possam ter experimentado. Os homens deveriam para ele, emprestando as palavras do biólogo e entomologista americano, Edward Osborne Wilson, conhecido por seu trabalho com ecologia, evolução e sociobiologia, divorciar-se da religião, pois um homem sozinho não consegue produzir um sistema moral de valores e tampouco competir com a exuberante descrição dos apocalipses e finais do tempo engendrados por poetas e artistas visuais vinculados a todos os grupamentos humanos que desenvolveram sistemas mitológicos sofisticados, porém simples de serem apropriados, entendidos, pelo mais limitado dos fiéis. Morrer é fácil, viver é difícil. Vamos em frente meu caro McEwan, não será desta vez que o milenarismo será esquecido pelos pobres homo sapiens deste periférico e frio planeta. Vale!
Registro #1493 (ensaio #267)
[início 20/01/2020 - fim: 22/01/2020]
"Blues do fim dos tempos", Ian McEwan, tradução de André Bezamat, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Biblioteca Antagonista #29), 1a. edição (2019), brochura 12x18 cm., 164 págs., ISBN: 978-85-92649-53-1 [edição original: End of The World Blues (Stanford University) 2007]
"Blues do fim dos tempos", Ian McEwan, tradução de André Bezamat, Belo Horizonte: Editora Âyiné (coleção Biblioteca Antagonista #29), 1a. edição (2019), brochura 12x18 cm., 164 págs., ISBN: 978-85-92649-53-1 [edição original: End of The World Blues (Stanford University) 2007]
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