sábado, 17 de março de 2007

balthazar

Não leia esta resenha se você ainda não leu o Justine, ou melhor, faça o que lhe aprouver, mas cuidado. Este é um livro que me surpreendeu e isto é sempre uma coisa que alegra o dia de um leitor. Terminei Justine, li outras cositas, pensei na vida e resolvi ler um tanto mais do Durrell, antes destas férias atrasadas de 2006. Balthazar é arrebatador. Justine terminou com um enigma: quem afinal tinha matado Capodistria durante a caçada de patos? Ele era o sujeito que havia estuprado Justine quando garota e o impacto do assassinato nas complexas relações entre Nessin, Justine, o narrador, Melissa, Clea fecham o volume. Mas o que dizer deste segundo movimento do quarteto? Como um palimpsesto tudo o que sabíamos do Justine é reavaliado e algo novo e soturno é acrescentado ao texto. O narrador não era seu único amante, nem mesmo o mais devotado. A nova camada transforma profundamente cada um dos personagens. Como em nosso mundo real onde o hábito, fiel camareiro, se esgota e enfim deixa o tempo e a vida desnudarem as pessoas e as relações, no livro sentimos o impacto das nuances. Tanto na vida quanto na literatura assim acabamos por ver mais bem definidas as muitas encarnações dos membros de nosso círculo de amizades e afinal (melhor dizer, principalmente, mais importante) de nós mesmos. Talvez eu não deva acrescentar mais nada das surpresas de Balthazar pois agora estou a entender os hábitos dos confrades leitores do Quarteto de Alexandria. Imergir neste livro é adentrar em um mundo mágico e vívido, onde os personagens parecem reais demais para estarem aprisionados em um romance da primeira metade do século passado. Começo a entender a mística do livro e o silêncio discreto de seus iniciados admiradores.
"Balthazar - O Quarteto de Alexandria", Lawrence Durrell, tradução de Daniel Pellizzari, editora Ediouro, 1a. edição (2006) ISBN: 85-00-01757-0

Um comentário:

Ronai disse...

Estou um volume atrás, terminei ontem de ler Justine. Ontem mesmo comecei o Balthazar; as cenas iniciais são muito bonitas, não? Fiquei lembrando de um escritor português que se mudou para uma ilha... acho que ali tem uma insipiracão durrelliana. Vou postar no morana a história do 'Erico Verissimo de que te falei. Um abraço do confrade.