segunda-feira, 9 de julho de 2007

tango


Acabei de terminar o Quinteto de Buenos Aires, livro do Vazquez Montalbán. O livro já estava esgotado apesar de ter sido publicado recentemente (já comentei este fenômeno editorial aqui). Encontrei em um sebo aqui mesmo de Santa Maria. Sorte grande a minha pois este é o último volume da série Carvalho que me faltava ler (isto é, dentre aqueles traduzidos para o português). O livro é na verdade um dos últimos da série, correspondendo à ação imediatamente anterior ao volume “O Homem de Minha Vida”, que já li e resenhei aqui há poucos meses. No “Quinteto” o detetive Carvalho se desloca para a Buenos Aires do governo Menen, em meados dos anos 90. Sua missão é encontrar um primo seu, filho de um tio catalão rabugento. Este primo, que já há muito tempo havia se radicado na Argentina, casou-se, e foi preso durante o golpe de estado dos anos setenta. Sua mulher foi morta. Sua filha sequestrada, desapareceu. A partir daí o livro discute muito dos problemas enfrentados pela Argentina na redemocratização, tímida ainda após os anos violentos do regime militar. Há muito o que falar sobre os mortos e desaparecidos; sobre a guerra idiota pelo controle das Malvinas/Falklands, que desencadeiou a queda do regime ditatorial; do processo de anistia, mal conduzido e não cicatrizado ainda hoje. Apesar do livro ser muito interessante, servindo para lembrarmos do ritmo portenho, das livrarias, dos cafés, das conversas sanguíneas com os argentinos, há um excesso de casos paralelos ao principal desta vez. Acredito que pelo fato da ação do livro envolver muitos meses, Montalbán tenha optado por fazer com que seu personagem principal, o detetive Carvalho, passasse a trabalhar regularmente na capital argentina em parceria de um velho detetive local. Estes “bicos” envolvem vários casos menores, cada um deles exemplificador de um aspecto da cultura argentina, ajudando o autor a descrever a paixão pelo boxe e pelo futebol, mitos da comunidade judaica ali radicada, os clubes de gastronomia portenhos, o peronismo, o tango, o dia a dia dos cafés, a presença imorredoura de Borges, os vestígios não removidos da guerra suja e do aparato policial de militares envolvidos na ditadura. Inegavelmente é bem escrito e há as inevitáveis receitas e combinações de vinhos de sempre. Há um excesso de mortes violentas desta vez, mas condizente com o exagero argentino no período militar. Li com prazer mas já um tanto saudoso do personagem. Tenho outros livros do Montalbán, mas são de ensaios e de crônicas. O ano Montalbán se encerrou mesmo, vamos partir para outros desafios (o Miles já está bem adiantado, o Robert Hughes e sua Barcelona também). Depois eu conto mais.
“O Quinteto de Buenos Aires”, Manuel Vázquez Montalbán, tradução de Eduardo Brandão, Editora Companhia das Letras, 1a. edição (2000) ISBN: 85-359-0029-2

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