Barcelona é um livro estupendo. É ao mesmo tempo um longo ensaio sobre a história de uma cidade, um excelente guia de viagens, um compêndio de críticas de arte e de artistas, uma reflexão desapaixonada sobre um povo e uma cultura. Conhecia Robert Hughes de seus documentários sobre arte moderna produzidos pela BBC nos anos 1980 e veiculados pela TV cultura de São Paulo: "O Choque do Novo" e "Visões da América". Lembro-me das conversas longas sobre cada um dos episódios que tinha com don Renato Cohen, hugheano de primeira hora. Hughes nasceu na Austrália mas se radicou ainda jovem no continente europeu em meados dos anos 1960. Desde 1970 é crítico de arte da revista Time em Nova York. "Barcelona" foi publicado às vésperas das olimpíadas de 1992 e textualmente se limita a descrever a história da cidade apenas até a morte de Antônio Gaudí, um pouco antes do início da guerra civil espanhola, no final dos anos 1930. O projeto inicial dele envolvia focar-se na arquitetura para descrever o período modernista catalão (mas conhecido em outros lugares como período art noveau, que vai da segunda metade do século XIX até 1910, aproximadamente). Mas segundo ele é impossível descrever estes 30, 40 anos sem ao menos refletir sobre os 2000 anos anteriores, desde o surgimento de Barcelona como pequena colônica na época de Augusto. Os capítulos não são esquemáticos. Quase todos os temas são apresentados sem atropelo, fundindo os fatos históricos mais importantes, a análise das influências, as mitologias, as descrições, as biografias, os relatos, as citações, a crítica de arte em um todo muito agradável de ler. O estilo é mesmo a marca de Hughes. Mesmo sendo um texto de fácil leitura em nenhum momento encontramos argumentos rasos e divagações inúteis. Contando com um detalhado guia remissivo e uma bibliografia extensa certamente este texto pode ser utilizado como porta de entrada ao universo da cultura catalã tanto por arquitetos, quanto artísticas plásticos, músicos, historiadores, curiosos e também, incrível, por viajantes em busca de sugestões de passeios turísticos. Eu li boa parte do livro com um mapa de Barcelona ao lado, procurando as referências e tentando lembrar um tanto dos passeios que fiz. Barcelona é mesmo " la gran encisera", a grande feiticeira, como o poeta Maragall escreveu um dia: "orgulhosa, traiçoeira e vulgar", mas completamente deles, orgulhosos, traiçoeiros e até vulgares, catalães.
“Barcelona”, Robert Hughes, tradução de Denise Bottman, Editora Companhia das Letras, 1a. edição (1955) ISBN: 85-7164-443-8
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2 comentários:
ler todo o blog, muito bom
ulalá
obrigado pela visita.
bom divertimento.
a.m.severino
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