domingo, 9 de setembro de 2007

acho melhor não


Esta belíssima edição da Cosac e Naify já assombrava minhas estantes há meses, sem que eu me dignasse a continuar a leitura do ponto em que parei assim que comprei o livro. Acontece que a edição envolvia duas capas literalmente costuradas e folhas que por sua vez deveriam ser separadas por um estilete de plástico que acompanha o livro. Eu havia lido o posfácio de Modesto Carone meses atrás e havia deixado o curto texto da novela de Melville para dias de mais concentração. Eis que este dia apareceu quando meu amigo Luiz-Olyntho mandou-me um e-mail dando conta do quão boa era a leitura do "Bartleby e companhia" de Enrique Vila Matas. Prometi ao Luiz que leria o livro e faria alguns comentários, mas como ler o Vila Matas antes do original Melville? Foi o que fiz nestes dias quentes de feriado. Que livro estupendo. É uma história curta cujo desfecho nós mantem em suspense até o final. O recorrente "Prefiro não fazê-lo" (ou "acho melhor não", na versão de Irene Hirsch) fica nos incomodando (da mesma forma que incomoda o narrador). Pois Bartleby aparece na vida deste narrador, incomodando-o (como de resto a todos a sua volta) e por fim morrendo sem queixas e recriminações, como acontece quase sempre com pessoas cuja vida já ultrapassou toda a sorte de aborrecimentos e que se deixam levar pelo marasmo e destino. O que torna esta curta novela em algo realmente forte é a capacidade de Melville de sintetizar um comportamento limite em rápidos parágrafos, sem nos deixar com alternativas e rotas de fuga mentais. Por que é mesmo que por vezes fugimos dos problemas simplesmente os ignorando, parece nos perguntar Melville. Belo livro, bela edição. Agora vou ter mesmo de enfrentar o Vila Matas e postar algo aqui sobre o natural contraste com esta obra original.
"Bartleby, o Escrivão", Heman Melville, tradução de Irene Hirsch, editora Cosac Naify, 1a. edição (2005) ISBN: 85-7503-446-4

Um comentário:

Paulo Rafael disse...

Li o Bartleby de Melville esta semana. Sensacional. Livro curto e poderososo. Não gostei da tradução do 'I would prefer not to' para acho melhor não. Por conta da tradução, preferi lê-lo novamente no original. Ainda não fiz a minha resenha. Abraços.