domingo, 14 de outubro de 2007

anarquia

Woody Allen é um de meus cineastas favoritos (se não for o favorito, eu mesmo não se dizer isto). Seus livros de ficção são igualmente instigantes. Tenho vários, desde livros de contos humorísticos (Sem Plumas, Efeitos Colaterais) até os roteiros (Zelig, Manhattan, Hanna e suas irmãs, Stardust) e peças de teatro (Sonhos de um Sedutor, A lâmpada flutuante). Este Pura Anarquia, editado pela Tusquets espanhola e recém publicado ganhei de presente de dueña Helga. São contos curtos publicados na revista americana The New Yorker. Quase todos são desenvolvimentos de fatos bizarros que ele leu em jornais (um ator que é sequestrado na India, uma empresa que lançou uma roupa que exala diferentes odores, uma escola que faz exames de admissão para crianças recém nascidas). Todos são francamente debochados e muito bem escritos. Há muito de fantasia, humor, claro, e expressionismo no texto. Parte considerável deles gira em temas do mundo do cinema americano (atores, roteiristas, diretores, jornalistas), mas há muitos outros onde é o americano médio que está sob análise. Os desfechos dos contos são como manda o manual: rápidos e surpreendentes. Há muitos jogos mentais entre os personagens e também entre o autor e o leitor. Entretanto acredito que não é um livro para se ler de uma vez, de uma sentada só. Como em uma sessão de piadas há uma cota certa para a diversão, precisamos tomar fôlego entre um set e outro. Se é que eu posso sugerir algo voltaria a este livro para ler os contos sem ordem, abrindo o livro aleatoriamente e me divertindo até cansar, mas parando quando isto acontecesse. Gostei particularmente de um terço das histórias: uma que envolve uma reforma maluca de um apartamento (a receita para um desastre); uma em que um bebê recém nascido foi reprovado em um teste de admissão para sua escolinha (seus pais experimentam um ostracismo social medonho); um onde Woddy Allen comenta o que um leitor comum entende das trancendentais teorias físicas que são publicadas nos jornais; um outro onde Mickey Mouse se defende em um tribunal ; ainda um onde ficamos sabendo dos hábitos gastronômicos de Nietzsche. Não que as outras sejam menores ou mal escritas, mas em uma coleção de contos naturalmente fazemos estas eleições mentais. Gostei muito do livrinho.
Pura Anarquia, Woddy Allen, tradução de Carlos Milla Soler, editores Tusquets, 1a. edição (2007) ISBN: 978-84-8383-010-0

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