quinta-feira, 18 de outubro de 2007

divâ


No mês passado comentei aqui que já que estava a ler os romances policiais de Montalbán sempre com renovado prazer havia chegado a hora de experimentar um autor brasileiro do mesmo gênero para compará-los. Li o primeiro Garcia-Roza publicado, ganhador do prêmio Jabuti, O silêncio da chuva. Fiquei dividido. O livro é bem escrito, mas a trama frouxa demais para meu gosto lapidado pelo Montalbán. Bom, a comparação é cruel, mas não há o que fazer. Resolvi ler dois dos últimos livros do Garcia-Roza publicados, fáceis de encontrar, para entendê-lo melhor. O que vou resenhar aqui é Espinosa sem saída, o outro, Berenice procura, ainda não li, mas vou resenhar na seqüência. Neste Espinosa sem saída temos uma trama que faz parte da experiência profissional do autor, um psicanalista, professor e autor de livros técnicos de psicanálise. Um crime incomum é cometido e um dos suspeitos é um sujeito casado com uma psicóloga bem-sucedida. O delegado Espinosa e sua brigada de auxiliares usam seu tempo livre para continuar a investigar um crime que usualmente seria arquivado pela irrelevância, pois o morto é um indigente, sem família, sem documentos, um não-cidadão. Um outro crime acontece e o desfecho do enredo entrelaça a elucidação de ambos. Esta elucidação passa pelos divâs dos personagens e também da própria cidade, assombrada por seus fantasmas e suas complexas camadas de extratos sociais. Uma farta descrição dos mecanismos dos traumas de infância, de perversões sexuais e patologias clínicas entram no enredo. Descobrimos quem são os assassinos. Fim do livro. Bem, o livro é bem escrito, os personagens interessantes, o cenário da zona sul carioca radiante em suas páginas, mas eu ainda não fui arrebatado por este delegado que gosta de literatura e filosofia e que tem uma ética incomum. Claro, vou me esforçar e ler mais livros deste sujeito. Quero tentar entender um tanto mais o Rio de Janeiro, que ele explica sem se utilizar dos argumentos batidos que usualmente associamos à cidade. Entretanto, assim como com o Montalbán, vou ter de garimpar nos sebos os livros mais antigos dele, esgotados que estão (este é mesmo um curioso fenômeno editorial brasileiro, as edições são tão pequenas, que mesmo um livro de relativo sucesso deve esperar anos para ser reeditado).
Espinosa Sem Saída, Luiz Alfredo Garcia-Roza, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2006) ISBN: 85-359-0939-7

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