Em um dos encontros com o povo das quintas-feiras ganhei este livrinho. Quem será que foi mesmo o presenteador? Esqueci. Deixei o livro guardado em um desvão lá de casa, dona Leda deve ter colocado outros em cima dele, esqueci-me totalmente até que ele saltou-me aos olhos noutro dia e pude enfim retomá-lo. Escrevo tanto para chegar a um nada, pois achar e ler este livro foi mesmo um azar só meu. São dois conjuntos de dez, doze contos: um intitulado "Não é difícil compreender os ETs", que dá nome ao livro e outro "Valsa do poderoso chefão". São contos algo frouxos para o meu gosto, pois parecem querer terminar rapidamente, não por falta de técnica ou apuro, mas por falta do que mais dizer. Parece que este açodamento deve ser entendido como uma virtude, em detrimento dos mais saudáveis hábito (fiel camareiro, lembra o Proust) e a paciência (senhora do tempo, lembra Durrell). Inegavelmente Laís Chaffe domina a técnica de escrever bem, não comete erros bobos, tem estilo definido, mas eu acho que as histórias são quase irrelevantes. Nos contos mais longos, quando ela deixa o texto continuar, ela ganha algo de força. De resto tudo me parece artificial demais, com metáforas demais, adjetivos demais, advérbios demais. Na segunda parte os contos são mais oníricos, mais mágicos, esfumados, fantasmagóricos, góticos até. Lembrei da Dorothy Parker, que dizia que há livros que devem ser esquecidos na mesa de cabeçeira, pois isto faz bem a eles, devemos mesmo esquecê-los. No último livro que li (e resenhei aqui) "O livro dos livros perdidos" ficamos sabendo da imensidão de textos que se perderam ao longo dos séculos, por força do fogo, da água, do homem. Neste início de século, onde há tanto por se ler, talvez seja pretensão demais acreditar que tudo o que escrevemos tem alguma chance de sobreviver algo mais que o nosso curto período de vida. Há livros que são mesmo dispensáveis e a vida é curta. Talvez a sabedoria esteja mesmo em classificar melhor o que se ler e investir em livros mais nobres. Vou refletir sobre isto quando começar a lista dos livros a serem lidos em 2008 (um ano bissexto, com um dia a mais de tempo para a vida e a leitura).
Não é difícil compreender os ETs, Laís Chaffe, editora AGE, 1a. edição (2002) ISBN: 85-7497-099-0
Não é difícil compreender os ETs, Laís Chaffe, editora AGE, 1a. edição (2002) ISBN: 85-7497-099-0
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