terça-feira, 11 de dezembro de 2007

lua

Muitos anos atrás, ainda quando era um estudante de graduação, li os dois livros de memórias de David Niven. São dois livros deliciosos, cheios de histórias engraçadas em rápida sucessão. Em um capítulo estamos com David Niven em um internato inglês dos anos 1920, depois em uma sonolenta reunião do exército britânico em uma ilha distante do mediterrâneo, vendendo whisky falsificado nos EUA, namorando moças bonitas do Waldorf Astoria (sem estar hospedado lá), fazendo pontas em infindáveis filmes de segunda linha. A correria segue até vê-lo depois em uma batalha da segunda guerra mundial, voltando aos EUA, logo esquiando nos alpes suiços, velejando, contando histórias, filmando aqui e acolá com amigos e desafetos, escrevendo livros, descrevendo conversas com princípes e outras potestades, sempre dando a impressão que o terno bem cortado, a coluna ereta e o copo de gin tônica na mão faziam parte de um tipo de uniforme de trabalho. Até hoje conto algumas das histórias mais incríveis para os amigos. Especialmente "A lua é um balão" é um de meus livros favoritos. Esta biografia "O outro lado da lua" conta um tanto mais dos muitos problemas financeiros e profissionais pelos quais David Niven passou. Talvez por ter natureza extremamente fleumática e prática tentasse sempre relevar as dificuldades ou mesmo rir de si mesmo como alternativa a depressão. Sheridan Morley dá pistas para entendermos melhor as circunstâncias que o levaram a ter uma carreira tão prolífica (quase 100 filmes) onde apenas um punhado deles (menos de 10) têm algum valor cinematográfico. Gostei de ler esta versão. Cada um de nós tem camadas sucessivas de revelações pessoais para oferecer e não há porque aceitar como definitivas as primeiras avaliações, os primeiros contatos. A descrição dos últimos anos de sua vida, padecendo da doença de Lou Gehring (uma perda crônica do tônus muscular) é muito bem escrita e dignificante. De qualquer forma acredito que vale a pena ler os livros de Niven antes de embarcar nesta biografia. Cabe dizer também que apesar da edição conter um bom índice onomástico e uma completa cinematografia de Niven, a tradução é repleta de erros óbvios que irritam o leitor. O clássico "a importância de ser ernesto", no lugar de "a importância de ser prudente" (um trocadilho de uma peça de Oscar Wilde) é o menor deles.
"David Niven, o outro lado da lua", Sheridan Morley, tradução de Reinaldo Guarany, editora Francisco Alves, 1a. edição (1989) ISBN: 85-265-0155-0

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