Esta é uma biografia bastante detalhada e até certo ponto bastante favorável a Filipe II, rei de Espanha na segunda metade do século XVI. Filipe II foi filho e herdeiro de Carlos V, imperador do sacro império romano germânico. Teve uma vida longa para os padrões de seu tempo (71 anos) e um reinado igualmente extenso (quase 50 anos). A Espanha de sua época foi um império de até então inigualável extensão territorial, embora muito fragmentário e sem jamais ter alcançado um grau aceitável de coesão adminstrativa. Os grandes desastres usualmente atribuídos a Filipe (derrota da grande armada, isolamento frente a Europa protestante, bancarrotas financeiras, apoio a inquisição) aconteceram majoritariamente quando ele já era bem velho e estava bastante alquebrado. Sobreviveu a maioria de seus filhos e a todas as esposas (como depois disse Flaubert de si mesmo: seu coração se transformou em uma necrópole). A biografia acompanha cronologicamente os passos mais importantes de sua vida e é francamente favorável até a quarta parte final, onde enfim o autor abondona o velhinho a sua má sorte histórica e a seus detratores usuais (anglicanos, católicos moderados, protestantes, muçulmanos). Não há muito o que se fazer com uma reputação já consolidada afinal de contas. Apesar de ser um livro realmente extenso (mais de 500 páginas se incluirmos a excelente bibliografia, as notas e o índice bastante detalhado) é de fato muito fácil de se ler e cheio de boas informações sobre um período conturbado da história européia e espanhola. O autor é um especialista, mas escreve sem paixão de uma forma muito agradável. Aprendi bastante e se cabe alguma indicação das razões básicas para a lenta decadência espanhola a partir de então, posso a meu juízo listar: (i) o fato da Espanha estar em guerra em algum lugar praticamente o tempo todo de seu reinado; (ii) o fato da religião realmente envenenar mesmo tudo; (iii) o fato do pragmatismo da igreja católica frente a realidade do protestantismo ser muito mais inteligente que a confrontação dedicada dos espanhóis através da contra-reforma; (iv) o fato de seus vários casamentos, sempre arranjados em função de complexas intenções políticas, serem acertados na idéia mas mal admistrados; (v) o fato de não ter movido a capital de seu império para um ponto mais próximo do litoral, como Lisboa por exemplo, quando isto ainda era politicamente possível. Mas chega de achismos históricos bestas. Estou seguro que mesmo para quem já conhece algo da história espanhola este é um belo livro para se ler. Bom divertimento.
"Filipe da Espanha", Henry Kanen, tradução de Vera Mello Joscelyne, editora Record, 1a. edição (2003) brochura 16x23cm, 544pág. ISBN: 978-85-01-0521901
2 comentários:
O nome do rei é Filipe, com "i", como, aliás, está escrito na própria capa do próprio livro.
"Filo" aparece em palavras como "filosofia" (amor ao saber), "anglófilo" (amor aos ingleses). "Filipe", pelo que sei, é o que ama os cavalos.
Grato pela informação. Abraços. Aguinaldo
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