Ulalá! Amélie Nothomb e seus livrinhos feitos de nitroglicerina pura, sempre surpeendentes. Assim é o caso deste "A metafísica dos tubos". É uma história de cento e tantas páginas, muito pessoal, direta e objetiva, mas que te força a ficar com ela em mãos até o final. Ela emula o ato de pensar de um recém nascido, que aliás é ela mesma, e que aos poucos vai descobrindo o mundo à sua volta, interagindo com ele, mesclando-se e adaptando-se a ele. No início o ser humano nada mais é que um anfioxo, aquele remoto ancestral de todos os vertebrados, que apenas ingere, digere e expele (e sobrevive, claro). Pois bem, um bebê nada mais é que um tubo por onde flui algum alimento. Mas as metáforas de Nothomb nunca são simples. Uma criança é também um pequeno deus (não um deus onipotente, ainda bem) que tudo quer e tudo alcança; um deus que se articula aos poucos; que rapidamente sabe que o prazer é sua própria identidade, sua razão de ser. Se no livro autobiográfico anterior que li dela (medo e submissão) ela vergasta o Japão, aqui ela o redime. Aprendemos mais um tanto sobre o sistema social japonês, sobre o teatro Nô (com o qual seu pai cônsul se envolveu de forma absoluta), sobre o envolvimento daquele povo com o mar, com a culinária e com a natureza. É um livro que fala do aprendizado de cada um de nós, aprendizado de regras, de línguas, de sintaxes, mas que também flerta com a morte, presente do início ao fim. No final ela conversa com o leitor, em mais um de seus jogos metalinguísticos bem construídos. Trata-se mesmo de uma poderosa escritora. [início - fim 20/03/2009]
"A metafísica dos tubos", Amélie Nothomb, tradução de Clóvis marques, editora Record (1a. edição) 2003, brochura 14x21, 144 págs. ISBN: 978-85-01-06339-8
Um comentário:
acabo de comprar esse livro!..
no aguardo ansioso pela chegada do mesmo!
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