Foram Heloísa, Lara e Samuel que me falaram deste livro (incrível como aquela noite rendeu boas conversas e boas dicas de leitura - acho que ainda não os agradeci adequadamente, preciso corrigir isto). O livro foi publicado em 2003. Trata-se de uma história, uma biografia talvez explique melhor, da cidade de São Paulo. Qualquer um que já tido a fortuna de viver em São Paulo sabe do encantamento que a cidade sabe produzir (esqueça o que você vê pela televisão, uma cidade só se conhece perdendo-se nela, sem pressa, sem temor). Talvez você só a abandone (se é que isto é possível) quando não há mesmo outra solução. Mas ler sobre a cidade é igualmente encantador. Roberto Pompeu de Toledo investiu um bom tempo na composição deste livro e o resultado é realmente muito bom. São três grandes seções que agrupam trinta e um capítulos em ordem cronológica, partindo da distante época do descobrimento e seguindo até 1900 mais ou menos (estou seguro que estes últimos 110 certamente merecerão uma outra biografia). Acompanhamos a descrição de como um lugar remoto, afastado do mar e dos grandes centros, lentamente ganha relevância, atrai diferentes tipos de sujeitos, se transforma e se reinventa. É um livro fácil de ler, muito bem escrito. São tantas as passagens interessantes, tão rico o conjunto de informações bem fundamentadas, tão equilibrados o humor e as seções mais carregadas de rigor sociológico e antropológico. Não há como destacar algo do livro. Aprendemos um bocado com as associações e com os fatos que Pompeu de Toledo conta. Não sabia que foi tão intenso o movimento migratório na cidade na segunda metade do século XIX, a ponto da cidade ter praticamente a mesma fração de antigos residentes e extrangeiros (italianos, alemães, árabes, e muitos outros mais). Claro, gostei mais das seções iniciais, onde as décadas iniciais de formação do povoamento que vai se transformar na cidade grande que conhecemos são apresentadas. Lembrei-me de meus anos de escola fundamental, quando fui apresentado pela primeira vez àqueles portentos: João Ramalho, Anchieta, Nóbrega, Tibiriçá, os Bandeirantes. Esta seção inicial faz um bom contraponto ao livro de Fernando Cacciatore de Garcia que li recentemente (Fronteira iluminada), onde este último descreve a formação das fronteiras do Rio Grande do Sul. Estes dois livros se complementam de alguma forma. Bueno. "A capital da solidão" merece mesmo o bom tempo que dedicamos a ele. Que belo livro. [início 02/04/2010 - fim 06/05/2010]
"A capital da solidão: uma história de São Paulo das origens a 1900", Roberto Pompeu de Toledo, editora Objetiva, 1a. edição (2003), capa-dura 16x23 cm, 599 págs. ISBN: 85-7302-568-9
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