Antônio Cândido Ribeiro é um sujeito que realmente gosta de livros e de usar a palavra. Recentemente ele foi escolhido patrono da Feira do Livro de Santa Maria e teve a chance de lançar nela este livro, sua primeira narrativa mais longa, uma novela intitulada "A face escura da lua" (ele é conhecido por suas crônicas e de outros textos produzidos em parceria). A novela se deixa ler em um par de horas, pois é realmente pequena. Talvez a pretensão inicial dele fosse produzir um texto de mais fôlego, uma narrativa mais extensa e mais detalhada (isto se depreende pelo intervalo temporal da novela e também pelo fato de apesar do núcleo central de personagens ser pequeno, serem citados e participarem da trama vários outros personagens, calcados em fatos históricos da Cidade e do Estado há cem anos mais ou menos.) O enredo segue sempre rápido, descrevendo como um jovem médico, ao se radicar em uma ainda provinciana e distante Santa Maria, se envolve afetivamente com uma mulher casada com um sujeito que é de um grupo político distinto do seu, mas de quem torna-se um bom amigo (cabe dizer que as divisões políticas gaúchas são famosas por sua perenidade, sendo as disputas sempre lembradas por uma violência que não raro desgraça famílias e cidades.) Dos sucessos iniciais deste envolvimento somos levados a vislumbres da história política do Rio Grande do Sul, a repetidos embates e reconciliações, nem sempre fraternas. O narrador acompanha o nascimento e o crescimento do filho do casal, de quem acaba se tornando uma espécie de preceptor, pois o rapaz escolhe também a medicina como carreira. A história chega a um desfecho que propositalmente é ambíguo (onde Candinho faz uso de um poema de Felippe d´Oliveira que resume o conflito do personagem principal da história.) Talvez a história merecesse mais tempo de preparação, onde as tramas apenas mencionadas pudessem ganhar mais espaço, onde pudessemos acompanhar com mais vagar a evolução dos personagens, mas se isto acontecesse teríamos um outro livro nas mãos. Como eu considero que este pequeno livro é um presente do Candinho para os santa-marienses, não me cabe ficar aqui mal humorado reclamando da brevidade do encantamento que sua prosa provoca. Paciência. Em tempo: não vou me furtar de registrar aqui o absurdo que foi o processo de distribuição dos exemplares deste livro (editado com recursos públicos e destinado sim a distribuição gratuita). Se é que entendi bem o que aconteceu naquelas horas só tinham acesso ao livro aqueles que por alguma proximidade com um edil ou preposto municipal merecesse tal regalo. Frente aos reclamos dos presentes aparentemente uns quantos exemplares foram distribuídos, mas a maioria deles ficou mesmo confinado em caixas de onde eu mesmo duvido que um dia sairão. A sorte dos livros é quase sempre funesta, mesmo quando editados acabam por vezes nas mãos de pseudo-editores, que relapsos e ineptos, não tem pejo em cobrar constrangedores pedágios morais para deles se desfazerem. É mesmo pena. Como eu leio mais livros por mês que estes senhores serão capazes de ler em sua vida toda é claro que tenho um entedimento e apreço aos livros que é inacansável a eles. Seria de se esperar um tipo diferente de zêlo com a coisa pública neste caso, mas isto é pedir demais em uma cidade como Santa Maria. Preciso também agradecer ao Werner Rempel e ao próprio Candinho a gentileza de terem feito chegar às minhas mãos este livro. [início 03/05/2010 - fim 03/05/2010]
"A face oculta da lua (inércia)", Antônio Cândido de Azambuja Ribeiro, editado pela Câmara Municipal de Santa Maria, 1a. edição (2010), brochura 14x19 cm, 77 págs. sem ISBN
Nenhum comentário:
Postar um comentário