domingo, 7 de novembro de 2010

nuestra pandilla

Dei sorte ao encontrar este livrinho perdido em um balaio da feira do livro de Porto Alegre. Cousa boa. "Nuestra pandilla" (ou "Our Gang" no original) é uma deliciosa sátira política publicada por Philip Roth em 1971. Na verdade ao menos a versão inicial dos seis capítulos deste pequeno livro foram publicados antes disto como artigos da New York Review of Books. O livro descreve sucessos delirantes, discursos tortos, entrevistas patéticas e conversas abúlicas de um amalucado presidente americano chamado Trick E. Dixon, óbvia caricatura de Richard Nixon. É hilariante, do começo ao fim. Mesmo quem pouco sabe do processo de impeachment pelo qual passou Nixon no meio de seu segundo mandato presidencial consegue acompanhar este livro sem maiores problemas. O incrível deste livro é saber que ele foi publicado antes do segundo mandato de Nixon, ou seja, antes do caso Watergate, antes do impeachment, antes que a maioria dos americanos entendessem o quão criminoso e estúpido era Nixon. Os bons romancistas sabem ser antenas da raça, como dizia Ezra Pound de alguns bons poetas. Philip Roth nos apresenta um Dixon sem escrúpulos, disposto a qualquer mentira, qualquer trapaça para continuar no poder. Não há método em sua loucura. Não há limites para sua desinteligência. O logro, a manipulação, a lógica difusa e obtusa do sujeito está a serviço de todo e qualquer mal. Seu discurso defendendo o voto dos fetos, seu comunicado à nação defendendo a invasão da Dinamarca por conta da pujante (e ultrajante) industria pornográfica instalada naquele país, sua reunião de gabinete nos porões da Casa Branca, são algumas das passagens divertidíssimas que encontramos no livro. Mas diferentemente do mundo real (onde Nixon foi reeleito com estrondosa maioria) no livro Dixon é assassinado e já no inferno candidata-se a suceder o próprio demônio. Ele não é eficiente o bastante para continuar neste posto, afirma Dixon em seu discurso infernal. Qualquer sujeito que não tenha sido lobotomizado e tenha alguma honestidade intelectual terá muitos motivos para se divertir com este livro, mesmo sabendo o quão revelador ele é do estado das cousas deste néscio Brasil de nossos dias. Grande Philip Roth. [início 02/11/2010 - fim 07/11/2010]
"Nuestra pandilla", Philip Roth, tradução de Ramón Buenaventura, editora Debolsillo, (Contemporánea) 1a. edição (2010), brochura 13x19 cm, 176 págs. ISBN: 978-987-566-578-1

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