"París no se acaba nunca" é um bom romance, mas não é fácil classificá-lo. O quê Enrique Vila-Matas nos apresenta mesmo? Uma divertida memória de seus anos em Paris, dos tempos em que escrevia sua primeira novela (na verdade segunda, la asesina ilustrada, mas esta é outra história); um ensaio descompromissado sobre o ofìcio de escrever, dos procedimentos técnicos da construção de um romance; um inventivo texto de ficção, onde acompanhamos as obsessões de um sujeito algo arrivista, dono de uma poderosa capacidade de imaginação? Talvez um tanto de cada uma destas coisas. Publicado originalmente em 2003 o livro descreve a París de meados dos anos 1970. Vila-Matas abusa de sua memória literária, recheando o livro com citações, causos, encontros com intelectuais e escritores, reflexões sobre literatura e arte. O livro é escrito como se fosse uma comunicação oral para uma conferência. É também uma homenagem e/ou paródia de Hemingway e seu livro póstumo "Paris é uma festa", publicado exatamente na época em que Vila-Matas vivia em Paris e tentava escrever seu livro. É um livro pequeno, que se deixa ler com prazer, dividido em curtos capítulos (são mais de 100), que podem ser lidos independentemente mas são conectados por uma grande idéia. Vila-Matas fala muito sobre literatura e estruturas narrativas, mas também sobre o mundo do cinema, da política, das teorias sobre a ironia e a mentira, do amor e amizade, da solidão, do auto-exílio. Para um sujeito que gosta de frases como eu o livro é que é uma festa. Sempre me surpreendo com a comunicação entre os livros: três semanas atrás achei por acaso "la asesina ilustrada", uma semana depois outro acaso e resolvo começar este "parís no se acaba nunca", que descreve exatamente a gênese do primeiro. Pura magia. Cousas dos livros. [início 09/11/2010 - fim 13/11/2010]
"París no se acaba nunca", Enrique Vila-Matas, editorial Anagrama (compactos), 3a. edição (2009), brochura 13,5x19,5 cm, 233 págs. ISBN: 978-84-339-7267-5
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