sexta-feira, 1 de abril de 2011

how fiction works

Soube deste pequeno livro através do Daniel Piza, talvez ainda no natal de 2008, mas não me preocupei em comprá-lo naquela época. Acabei encontrando "How fiction works" mais recentemente, em uma tarde estival, paulista, acompanhado de don Renato Cohen e discutindo livros. Li o bom texto de James Wood entrecortando o tempo com outras cousas (como sempre acontece afinal de contas). O inglês de Woods é relativamente fácil, entretanto ele usa vez ou outra uns termos que só meu arsenal de dicionários e alguma invenção lograram decifrar (se é que consegui fazê-lo certo, confesso, pois há que se considerar que teoria literária não é exatamente minha seara). O livro é dividido em dez capítulos, mas cada parágrafo, focalizado em uma idéia ou conceito, é numerado. Isto facilita localizar posteriormente um argumento qualquer dele. Trata-se de um livro bem objetivo. Serve-se de exemplos do que há de melhor na prosa: Flaubert (principalmente) e Henry James, mas passando por Nabokov, Bellow e Joyce, Proust, McCarthy, Foster Wallace, Roth e Sebald, entre uma miríade de citações. Ele consegue não deixar o livro tornar-se pedante e/ou demasiadamente acadêmico. No final incluiu uma lista com os quase cem títulos citados - até aqueles que o foram apenas episodicamente. Qualquer programa sério de leituras certamente acolheria este cânone sem maiores problemas. Ele levanta questões interessantes sobre a dose certa de artifício e verossimilhança que toda criação literária pode aspirar alcançar (isto sem cair na vala comum do realismo, que não é o tipo de ficção que possa se prestar a ser lida neste início de século). Não é, nem de longe, um livro para amadores ou beletristas, leitores que se contentam com ler apenas o que é oferecido pelo cardápio literário contemporâneo, ou aqueles que leem por encomenda, sem maturidade. O que ele parece dizer é que há autores que um sujeito que preze a literatura não pode se furtar em ler, pois é através da leitura destes bons livros que, primordialmente, inferimos o quê realmente importa na vida, nas questões morais e nos homens. Seu argumento original aspira emular o que John Ruskin fez com o desenho e a pintura em "The elements of drawing". Por fim, cabe registrar que um inglês como ele tem de ter coragem para escrever: "The english language is a van cousin of the french language". Ulalá. Vou procurar outras coisas deste sujeito. Belo projeto de interpretação, belo livro. [início 12/01/2011 - fim 14/03/2011]
"How fiction works", James Wood, Great Britain: Vintage Books U.K. (Random House Group), 1a. edição (2009), brochura 13x20 cm, 194 págs. ISBN: 978-1-845-95093-4

2 comentários:

Paulo Sousa disse...

Estou na metade ainda deste, mas há alguns pontos que não deixam em paz, principalmente sobre essa dose - de certa forma exagerada - em dar foco ao elemento sintático e semântico de algumas palavras e expressões que Wood vai discorrendo. Sinceramente, se lê assim mesmo, detendo-se nesses pequenos detalhes (os trechos em que ele fala sobre expressões inverídicas e até galhofeiras é bem interessante)? Senão, se for assim, eu de fato nunca aprendi a ler; antes, teria de gastar um bom par de meses para ler um livro somente...prossigamos.

Aguinaldo Medici Severino disse...

oi. eu entendo que esses detalhes são "lidos/entendidos" inconscientemente. são aqueles impactos que experimentamos ao ler algo que passamos a apreciar, tornam-se as lembranças que fixamos dos livros que lemos. segue o baile. abração