Naguib Mahfuz foi um dos escritores egípcios mais influentes do século passado. Sujeito muito prolífico (publicou cerca de 50 romances e centenas de contos entre 1932 e 1987), Mahfuz ganhou o prêmio Nobel de literatura em 1988. "O beco do pilão" é um de seus primeiros livros, publicado em 1947. Lembrei muito do "La Colmena", do Camilo José Cela, que é de 1951, mas surpreendentemente partilha com "O beco do pilão" algo do ritmo e da ambientação (preciso reler este livro um dia destes). Encontramos aqui uma especie de mosaico, formado por histórias cruzadas de várias personagens que vivem em um pequeno beco da zona pobre da parte antiga da cidade do Cairo, nos tempos do final da segunda grande guerra. O Egito já tinha sido libertado da invasão das forças italianas e alemã, já experimentando algum progresso com o dinheiro fácil dos ingleses e dos fugitivos da guerra, que continuava na Europa. As histórias são duras, onde cada um, a seu modo, experimenta uma vida miserável, confusa, de sonhos mirrados e futuro incerto. Todavia Mahfuz as apresenta com muita objetividade e realismo, não apela para chantagens emocionais e sentimentalismos bobos. O que o leitor encontra são histórias críveis, sobre homossexualismo, prostituição, avareza, religiosidade, política, militarismo, saúde pública, relações humanas. Mahfuz consegue em poucas frases definir personalidades complexas e o papel que cada um ganha nas tramas sempre é convincente. Os temas descritos são variados e contrastam o comportamento dos habitantes daquele beco com a população de um Egito que se moderniza, por força da ocupação britânica. É tempo, vou procurar mais livros desse sujeito. [início: 28/12/2011 - fim: 08/01/2012]
"O beco do pilão", Naguib Mahfouz, tradução de Paulo Daniel Farah, São Paulo: editora Planeta do Brasil (1a.
edição) 2003, brochura 16x23, 319 págs. ISBN: 85-7479-695-6
[edição
original: زقاق المدق Zuqãq al-Midaqq (Cairo) 1947]
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