segunda-feira, 2 de julho de 2012

as entrevistas da paris review 2

Encontramos neste "As entrevistas da Paris Review - vol. 2" exatamente o que o título promete: uma (pequena) amostra das quase 350 seminais entrevistas já publicadas pela The Paris Review. Assim como no volume anterior, publicado em 2011, as escolhas aqui são aleatórias, certamente um capricho do editor, que faz suas apostas sobre quais nomes ainda têm ressonância no público leitor e algum valor literário caro aos críticos. A reputação literária é algo sempre fugaz e só uns poucos de fato vão sobreviver no apreço das futuras gerações (ao menos dos leitores não profissionais). As entrevistas mais antigas são dos anos 1960 (Arthur Miller e Vladimir Nabokov), as mais recentes dos anos 2000 (Hunter Thompson, Louis Begley e Salman Rushdie).  Encontramos também John Cheever e Joseph Brodsky (anos 1970), Tennessee Williams, Elizabeth Bishop, Julio Cortázar, Milan Kundera e Maguerite Yourcenar (anos 1980) e Martin Amis, um solitário representante dos anos 1990. Na verdade este registro não tem muito valor, pois foi o filtro original dos editores da The Paris Review quem gerou a ordem e a oportunidade das entrevistas, certamente movidos por miríades de conveniências cruzadas. Paciência. A entrevista com Elizabeth Bishop é curiosa, por conta de referências ao Brasil que obviamente não seriam tão neutras se conduzidas por uma jornalista brasileira; a de Joseph Brodsky é algo caótica, mas faz com que o leitor procure um livro ou poema dele para ler; Nabokov, que só respondeu por escrito, é controlador e duro nas respostas; Cortázar abusa na defesa de seu engajamento político; a de Milan Kundera boa, por conta do registro de suas preocupações teóricas e estéticas; Arthur Miller e Martin Amis são cerebrais demais, racionalizando tudo o que dizem; John Cheever parece desdenhar de seu próprio valor ou imanência literária; Marguerite Yourcenar contida e ambivalente demais; na de Salman Rushdie o leitor encontra um bom exemplo do quanto de acaso existe no ofício de escritor; Louis Begley revela ser zeloso demais com a reputação de seus personagens; a de Hunter Thompson (afinal, mais jornalista que bom escritor) uma egotrip dispensável. Algumas entrevistas refletem linearmente a conversação, noutras encontramos resumos temáticos do que foi abordado diretamente ou dirimido em contatos telefônicos, e ainda há aquelas que se arrastam, monótonas. Apesar desta intrínsica heterogeneidade o leitor consegue apreciar o quão díspares são os entendimentos do ofício entre cada um dos entrevistados. Cortázar e Nabokov parecem extremos. Enquanto são os personagens das histórias do primeiro que "descobrem" o que vai ser narrado, o segundo afirma que os seus são operários, escravos nas galés. Leitura tranquila. Como acontece quando conhecemos melhor uma pessoa certas entrevistas nos fazem querer ler algo dos autores, enquanto outras definitivamente nos previnem deles. E assim segue a vida. [início 19/06/2012 - fim 29/06/2012]
"As entrevistas da Paris Review - vol. 2", Arthur Miller, Vladimir Nabokov, John Cheever, Elizabeth Bishop, Tennessee Williams, Joseph Brodsky, Julio Cortázar, Milan Kundera, Marguerite Yourcenar, Martin Amis, Hunter Thompson, Louis Begley, Salman Rushdie, tradução de George Schlesinger, São Paulo: editora Companhia das Letras, 1a. edição (2012), brochura 14x21 cm, 451 págs. ISBN: 978-85-359-2095-6 [edição original: The Paris Review Interviews (New York), 1966, 1967, 1976, 1979, 1981, 1983, 1984, 1998, 2000, 2002, 2005]

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