Já li um bocado de livros de Ian McEwan (os registros podem ser encontrados aqui). Me parece que esse último que li, "A balada de Adam Henry" é de longe o menos interessante deles. Em algumas passagens pensei estar lendo uma versão moderna de "O pequeno príncipe" e noutras uma vulgarização - quase um plágio - daquele conto fascinante de Joyce incluído no Dublinenses: "The dead". Vamos a ver. O livro é bem escrito, claro, tem passagens realmente boas e apresenta um dilema moral interessante, mas no final tudo parece artificial demais, esquemático demais, aborrecido demais, envelhecido demais. O tema geral do livro é realmente contemporâneo e importante, já que se trata de uma discussão sobre as fronteiras de atuação da ciência e da força do estado (das leis), em contraposição ao pensamento mágico (ou outras formas de conhecimento, digamos assim) e o direito a privacidade e/ou crença de qualquer indivíduo. Enfim, na trama do livro a Fiona Maye, uma atarefada e eficiente juíza de uma alta corte do sistema judiciário inglês, cabe o papel de interpretar a lei no caso de um jovem não emancipado que precisa forçosamente receber uma transfusão de sangue e cujos pais se recusam a autorizar tal procedimento por conta de suas convicções religiosas. A juíza decide pela autorização (e obviamente salva a vida do rapaz) mas num processo clássico de transferência o rapaz cobra da juíza um relacionamento contínuo, uma troca, como se ela fosse a partir daquela decisão responsável para sempre por seu renascimento. O livro inclui várias passagens onde diferentes processos jurídicos e demandas são decididas pela juíza (o código de leis inglês segue um procedimento bastante diferente do brasileiro, portanto soa estranho à nossa experiência o ritmo e a sequência lógica das decisões da juíza). Em paralelo às muitas questões jurídicas que a protagonista da história precisa resolver (sobretudo a principal, que dá estrutura ao livro) o leitor é apresentado as dificuldades da protagonista para manter um relacionamento afetivo, continuar com sua paixão pela música e planejar adequadamente seu futuro. Acho que James Joyce consegue apresentar em "The Dead" o mesmo dilema experimentado por Fiona Maye com mais força e sutileza que Ian Macwen alcançou fazer, mas claro, trata-se de uma covardia minha esse tipo de associação. Vamos em frente. É tempo.
[início: 09/03/2015 - fim: 11/02/2015]
"A balada de Adam Henry", Ian McEwan, tradução de Jorio Dauster, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 196 págs., ISBN: 978-85-359-2513-5 [edição original: The Children Act (New York: Nan A. Talese (Knopf Doubleday / Random House Group)
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