Nesse pequeno livro Patrick Modiano apresenta fragmentos das lembranças de um garoto cooptado por franceses colaboracionistas durante o período de ocupação nazista (entre 1940 e 1944). Esse garoto sofre de uma doença degenerativa (ou algum tipo de demência, ou está simplesmente se enganando, fingindo não ter cometido as atrocidades que cometeu). Ele é recrutado para inspecionar as casas abandonadas de pessoas abastadas que fugiram quando da ocupação nazista, indicando a seus colegas da Gestapo francesa que tipo de bens delas poderiam ser subtraídos, vendidos ou entregues as autoridades de plantão. Ele também é infiltrado em um grupo da resistência francesa e eventualmente provoca a morte ou a prisão de alguns membros. No porão de uma dessas casas confiscadas pela Gestapo prisioneiros são torturados e mortos enquanto que seus algozes imaginam o lucro que terão com a venda de cada um dos itens que confiscaram. O garoto mitiga sua culpa cuidando de um velho cego e de uma menina, e em algum momento acaba se indispondo com seus colegas que o perseguem pelos boulevards de Paris. A narrativa alterna o passado remoto do personagem, os planos para o futuro de cada colaboracionista, o presente grotesco de seus crimes e culpas. Não sabemos se o narrador sobreviverá a redemocratização da França, se o que se lê são as memórias de um velho ou algo como o futuro inventado por um escritor para pessoas que viveram aquela amarga experiência. Quase no final do livro Modiano se apresenta como um maníaco obsessivo que se debruça pela história de garotos como o narrador da história. A edição original desse livro é de 1969, trata-se portanto do segundo livro publicado por Modiano (de quem já li "Dora Bruder" e "Flores da ruína").
[início - fim: 06/03/2015]
"Ronda da noite", Patrick Modiano, tradução de Herbert Daniel, Rio de Janeiro:Editora Rocco, 1a. edição (2014), brochura 14x21 cm., 127 págs., ISBN: 978-85-325-0157-8 [edição original: "La Ronde de Nuit" (Paris: Éditions Gallimard) 1969]
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