sexta-feira, 13 de novembro de 2015

minda-au

São sete contos curtos, compactos, que se deixam ler com alegria. "Minda-au", publicado originalmente em 2010, foi o livro de estréia de Márcio Renato dos Santos. Ele é o homem curioso que anda por sua Curitiba ancestral catalogando as gentes, os hábitos, os comportamentos (dele já li os bons "Mais laiquis", lançado este ano; "2,99" e "Dicionário amoroso de Curitiba", ambos de 2014. Em "Sub" acompanhamos o impacto da chuva na vida de um sujeito que vive nas ruas, num contraste  lírico entre riqueza e pobreza; em "A guitarra de Jerez" o tom já flerta com o fantástico, quando seguimos os azares que uma guitarra enfeitiçada trás a seus proprietários; em "O espírito da floresta" a ironia subjuga o fantástico, quando trilhamos a rotina de uma mulher assombrada por uma lenda urbana; "De teletransporte número 2" pode ser tanto o sonho amalucado de um rapaz quanto o delírio de alguém que foi alvejado em um assalto e delira; "Os homens sem alma" já é mais cruel, pois o narrador faz o censo das mediocridades encarnadas em um sujeito; "Pra quem busca uma vida nova" rimos da solidão de um rapaz curitibano que tenta viver em Porto Alegre para descobrir simultaneamente a inaptidão dele para o exílio voluntário e o provincianismo da cidade que ele antes idealizava; "Ali, agora" é uma espécie de réquiem que um jovem escritor produz para seu mentor, seu antigo mestre, que agoniza (ou já está morto). São histórias singelas, onde sempre se capta um sentimento genuíno, uma virtude, um aspecto do cotidiano contemporâneo, ou ainda algo abstrato, aquilo que podemos associar aos compromissos que os homens fazem para sobreviver com alguma dignidade frente os aborrecimentos desta vida.
[início: 09/10/2015 - 13/10/2015]
"Minda-au", Marcio Renato dos Santos, Rio de Janeiro: editora Record, 1a. edição (2010), brochura 13,5x20.5 cm., 80 págs., ISBN: 978-85-01-09016-4

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