domingo, 12 de fevereiro de 2017

viagem ao harz

Lendo "Viagem ao Harz" tornamo-nos companheiros de Heinrich Heine pelos caminhos do Harz (cadeia montanhosa da Saxônia, na Alemanha). Ainda é verão, mas o outono logo chegará. O ar está límpido, puro; as trilhas são sinuosas; a natureza vibra em toda sua potência; o Brocken, majestoso, brincando com as nuvens, indica o objetivo da viagem. O narrador é um flâneur das colinas e montes, não tem pressa, um bom mês dura sua deambulação. Sair de Göttingen, a cidade universitária que desdenha, é imperioso; ali florescem apenas hipocrisia e mediocridade. Zombeteiro, genuinamente romântico, o poeta ambiciona civilizar-se, radicar-se em Paris, instruir (e ser instruído), não mais apenas divertir-se. Nada como a natureza, caminhar pelas terras alemãs dos contos de fada e refletir com calma para que esse projeto se justifique, ganhe força, se materialize. As vezes parece que ele caminha só, noutras há com ele um grupo de poetas, colegas da universidade, com quem compartilha experiências estéticas, ruídos, risos e cheiros, noites perto da lareira e roncos, o espetacular crepúsculo no alto do Brocken. Ele passa por cidades pequenas, conversa com as pessoas que encontra pelo caminho, flerta com mocinhas, fica em hospedarias onde encontra abrigo, alimenta-se frugalmente, visita igrejas e cemitérios. Alguns de seus interlocutores durante a viagem são gente quase rude do campo, outros notavelmente intelectuais. Com ambos discute filosofia e política, judaísmo e direito, a psiquê alemã e história. Serpenteante, ele passa Weende, Nörtheim, Osterode, Learbach, Clausthal, Zellerfeld e Goslar, encontra o alto Brocken e, já na descida dos montes, seguindo o curso de rios e de cachoeiras, chega a Ilsentein (a rota original pode ser conferida neste antigo mapa). A edição é muito bem cuidada. O texto inclui cinco poemas/canções de Heine; uma introdução do tradutor, Maurício Mendonça Cardozo; uma reprodução do prefácio à edição francesa, assinado por Théophile Gautier (amigo de Heine) e um excelente posfácio, assinado por Sandra Stroparo. Se você for suficientemente curioso e tiver algum tempo livre pode fazer um passeio pelo parque nacional de Harz e reproduzir a experiência de Heine (várias agências de turismo organizam Heinrich Heine Weg). Deve ser divertido.
[início: 09/01/2017 - fim: 10/01/2017]
"Viagem ao Harz", Heinrich Heine, tradução de Mauricio Mendonça Cardozo, São Paulo: Editora 34, 1a. edição (2013), brochura 14x21 cm., 141 págs., ISBN: 978-85-7326-547-7 [edição original: Die Harzreise (Hamburg: Der Gesellschafter / Hoffmann & Campe) 1826]

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