domingo, 4 de março de 2007

justine

Quando já há muitos anos atrás eu era um rapaz de finanças remediadas mas que comprava muito poucos dos livros que lia fiquei namorando meses uns livros grandes, de capa branca, deliciosos de se ver, que encontrava repetidas vezes em uma livraria paulista. A edição, lindíssima, não me canso de lembrar, era de portugal e havia algo de mágico em ler com um pretenso sotaque aquele livro sobre o qual muitos contavam passagens sonantes e que diziam ser fundamental ler. Era um livro para pessoas maduras, dizia-se à época, para pessoas que já experimentaram algum dissabor nas relações afetivas. Agora que "O quarteto de alexandria" foi editado pela primeira vez em português brasileiro e lançado pela Ediouro em uma bela edição achei que era minha vez de experimentar o livro. O primeiro volume do quarteto é Justine. Começei a ler em meio a outros projetos menos ambiciosos e o livro fez rapidamente perceber ser necessária alguma concentração para aproveitar as muitas digressões e opiniões dos personagens. Acabei de terminar e fiquei pronto para começar o seguinte: Balthazar. Este primeiro volume tem um narrador que conta e canta a cidade Alexandria (no Egito) como uma personagem forte que acolhe mas sabe ser implacável quando quer ser. O narrador tem relações complexas com Justine, uma mulher casada com um rico comerciante (Nessin), um tanto sádico e voyerista e também com Melissa, uma dançarina de cabaré que em certa oportunidade ele salvou a vida. Há muitos outros personagens, alguns apenas citados, outros que sabemos serem interessantes demais para que desapareçam neste primeiro volume sem algum outro tratamento. A segunda guerra mundial está para acontecer e todos os personagens parecem antecipar que algo realmente drástico está para acontecer. Se é que eu posso dizer algo do quarteto como um todo tendo lido tão pouco, vou ser econômico e registrar que acho ser mesmo um livro para se ler após ter passado pelos primeiros aborrecimentos da juventude. Não há concessões para os otimistas. Gosto do ritmo e do nível de descrição factual do entorno do livro. Talvez eu devesse escrever algo apenas quando terminasse os quatro volumes, mas Justine "se defende sozinho", como gosto de sempre lembrar dos livros, estes objetos que têm a capacidade de rivalizar conosco tanto racionalmente quanto na mera descrição sensível das emoções. Vamos a ver se eu avanço mais neste projeto e posso dizer algo mais consistente e elaborado sobre este quarteto de relações e descobertas no futuro. Me aguardem.
"Justine - O Quarteto de Alexandria", Lawrence Durrell, tradução de Daniel Pellizzari, editora Ediouro, 1a. edição (2006) ISBN: 85-00-01576-2

2 comentários:

Ronai Rocha disse...

Belo projeto, Mestre Guina. Vou ver se me inspiro. Aqui na Tuiuti repousam na estante de dona Marta os quatro volumes, publicados pela Editora Ulisseia, Lisboa, em 1973, lidos e relidos por ela. Eu mesmo nunca senti forças para me atrever nessa leitura. Quem sabe agora? Afinal, ficaria mais leve uma versão nossa para: "A psique contemporânea estoirou como uma bola de sabão sob as investigações dos mistagogos." (Justine, p. 127). Grande abraço, obrigado pela bela resenha.

Ronai Rocha disse...

Bom, agora já falo de banquinho. Comecei a ler Justine. Dona Marta conta que esse era o romance favorito de Érico Veríssimo; ele recomendava aos amigos, fato contado pelo Armindo Trevisan (que não era chegado a leitura de romances) que lesse esse livro, tal era sua paixão pelo mesmo. Uma coisa boa é a disponibilidade em português dos poemas do "velho poeta" (Kaváfis) em português; acho que em algum lugar do Morana eu indiquei isso.
O livro é muito bom. Estou lendo devagar, terminei a primeira parte ontem, avancei na segunda hoje. Encontrei algumas menções à filosofia que valem um registro à parte, em especial por reproduzirem um clima que por vezes a gente encontra no Musil (O homem sem qualidades). Valeu, um abraço.