quinta-feira, 14 de junho de 2007

milênio

Mais um Montalbán. O quê fazer? O sujeito escreve bem, os livros estão à mão e me lembram as Ramblas e o bacalao, asssim eu sigo lendo, com renovado prazer. Este foi o último livro publicado dele. Trata-se de um volume que havia sido planejado 30 anos atrás, quando Montalbán e seu editor acertaram os detalhes do projeto de publicar romances policiais tendo a espanha pós-Franco como pano de fundo. Anos antes um personagem secundário de um de seus livros, Pepe Carvalho, havia chamado a atenção do público, que praticamente pediu desdobramentos e explicações sobre o curioso dedetive ex-comunista, gourmet e literato. Montalbán intuiu que havia lugar nas letras espanholas para um personagem deste tipo e consagrou-se, apesar do romance policial ser também na Espanha considerado um estilo menor. A idéia envolvia escrever o ciclo e terminá-lo na virada do século 20 para o século 21, acompanhando a entrada do estado espanhol na modernidade adindo a inserção no mercado comum europeu. O livro é um relato de viagens, confessadamente baseado no Bouvard e Pecuchet de Flaubert, no Don Quixote de Cervantes, no Robinson Crusoe de Defoe e no Volta ao Mundo em 80 dias de Julio Verne. Pepe Carvalho e seu ajudante Jordi Biscuter saem de Barcelona e vivem uma série de peripécias, reencontrando amigos e rivais, resolvendo pendengas e casos antigos ao longo de uma viagem pelos países mais afetados pela globalização e pelas crises deste início de século. Não é um passeio por hotéis cinco estrelas ou recheado de conversas em praias enluaradas. Acredito que Montalbán queria mesmo que refletissemos sobre os problemas contemporâneos. Não chega a ser um livro pessimista, pois já estamos acostumados com a ironia e a crueza dos comentários do detetive Carvalho. Montalbán morreu logo após de enviar os originais para sua editora, em uma viagem de férias no sudeste asiático, assim ficaremos sem saber se haveria ainda algum desfecho acrescentado à serie. Cabe dizer que apesar deste ser um romance policial o que menos importa no livro é descobrir o autor dos crimes. Acho que ainda vou ler uns pequenos volumes que tenho dele neste ano Montalbán, afinal de contas.
"Milênio", Manuel Vázquez Montalbán, tradução de Rosa Freire D'Aguiar, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2007) ISBN: 978-85-359-0957-9

Nenhum comentário: