sábado, 4 de agosto de 2007

nostos 1


Este segundo volume da tradução do Donaldo Schüler da Odisséia ficou esperando os outros projetos. Li aos poucos, sempre interrompendo para incluir outras urgências e outras prioridades. Não é a forma mais inteligente de se ler um livro, mas como eu já disse na resenha do primeiro volume desta tradução a Odisséia me acompanha já há anos demais para que eu tenha uma postura reverente em relação ao poema. Lembro da primeira leitura, em uma edição de bolso, emprestada da biblioteca central de São Bernardo, que lia enquanto cortava amostras de Nióbio, para um projeto que estava começando com o Frank Missell (o Brasil têm uma das maiores jazidas de Nióbio do mundo e sempre ficamos a nos perguntar o que fazer com isto, mas esta é outra história). Neste segundo volume o tema é o regresso (a primeira parte dele). Nele são contadas algumas das aventuras de Odisseu (do Ulysses) entre a saída da ilha de Ogígia, onde estava retido por Calipso, e a chegada à Ítaca, onde haverá a matança dos pretendentes. Retrospectivamente o próprio Ulysses contará o que aconteceu desde a saída de Tróia até a chegada a Ogígia. Estes cantos (do 5 ao 12) começam com a assembléia dos deuses onde é decidido já ser a hora do início da viagem de volta pelo mar. Calipso é avisada disto por Hermes e o auxilia, mesmo a contragosto, a preparar uma embarcação. Athena sempre vigilante auxilia-o na viagem pelo mar e apesar de algumas atribulações, geradas principalmente por Poseidon, que cobra os últimos tributos de castigo ao herói destruindo sua barcaça ainda em alto mar, Ulysses chega às terras do rei Alcínoo, dos Feáceos. Quem o ajuda no início é Nausícaa, filha do rei, e é de lá que o herói se preparará para voltar a Ítaca e retomar seu próprio trono (e finalizar o regresso). Estes oito cantos estão repletos de regras de diplomacia e de boa educação. Qualquer pessoa que hospeda e que se deixa hospedar com alguém deve ler estes cantos para aprender algo de etiqueta (mesmo após estes 3000 anos ninguém pode dizer que os gregos não cultivavam uma espécie de boa educação). Buenos. Após os cantos 5, 6 e 7 um banquete é preparado e jogos festivos são organizados. Ulysses ouve no canto 8 sua própria história dos tempos da guerra em Tróia sendo contadas por um aedo. Há um aspecto curioso aí pois como no Quixote, centenas de anos depois, um personagem ouve relatos de si próprio e a luz disto, modifica sua trajetória pessoal em uma história. Este tipo de efeito faz com que muitos atribuam multiplicidade de autores aos 24 cantos da obra (há quem defenda que este ciclo em especial foi escrito por uma moçinha, que descreve a costa da Sicília e as ilhas dos arredores, mas esta também é outra história). Nos cantos seguintes (9,10,11) Ulysses finalmente se apresenta e passa a contar o que aconteceu desde a saída de Tróia ao final da guerra. As histórias que usualmente associamos a Ulysses (com a exceção da matança dos pretendentes) acontecem nesta sessão: Ele e seus comandados são forçados por seus próprios atos impensados a deambular pelo mar Egeu e pelo mar Tirreno, se envolvendo com os Cicones, os Lotófagos, os Ciclopes (no canto 9), bem como com o rei dos ventos Éolo, os Lestrígones e a feiticeira Circe (no canto 10) que sugere que a volta só se dará após Odisseu descer ao inferno, onde ele deve consultar a alma de Tirésias. No canto 11 é descrita a descida e as conversações com os mortos. No canto 12 as últimas perturbações e a morte de seus últimos companheiros com a passagem pela ilha das sereias, pelo estreito entre Cila e Caribdes e o repasto indevido dos bois do deus Hélios. Mortos os companheiros Odisseu naufraga na ilha de Ogígia e ali ficará aos cuidados de Calipso por 7 longos anos. Apesar de ler com vívido interesse eu ainda não me convenci de todos os acertos da tradução de Donaldo Schüler, mas vou esperar terminar o terceiro volume para escrever algo mais objetivo sobre isto. Claro que ela é fácil de ler e nos apresenta o poema honestamente, mas há algumas soluções que me tiram do sério: "cuscos", "vapt-vupt", "tempão", "peidos na fuça", "salário", "canseira", "baboseira" e mesmo o singular "Nulisseu" ainda se batem com meus neurônios cansados. Volto a este ponto quando terminar o terceiro volume. Bom divertimento até aqui.

"Odisséia II - egresso", Homero, tradução de Donaldo Schüler, editora LP&M, 1a. edição (2007) ISBN: 978-85-254-1632-0

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