quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

naufrágio

Já fazia tempo que não lia um livro de Louis Begley. Ele é o autor dos ótimos "Sobre Schmidt" (que virou filme com Jack Nickolson em um belo papel) e "Despedida em Veneza". Os livros dele são sempre bem escritos e tratam de temas banais vividos sempre por pessoas bastante sofisticadas e ricas (não exatamente nesta ordem). Ele tem uma trajetória como escritor curiosa, pois começou a publicar relativamente tarde e vindo de um ramo de atividade (a advocacia bancária) de onde não se espera muito lirismo e/ou humanismo. De qualquer forma ele é um autor respeitado, apesar de estar longe da consagração de outros autores americanos de sua geração, como Philip Roth, Saul Below e John Updike por exemplo. O enredo deste livro envolve um escritor de sucesso que vive parte do tempo na América e parte do tempo na Europa, participando de campanhas publicitárias de seus livros, acompanhando a produção de um filme baseado em suas obras, recebendo prêmios literários, frequentando bons restaurantes e se divertindo com amigos de longa data. Apesar do sucesso ele está justamente em dúvida sobre o real valor literário do que tem produzido e isto provoca uma espécie de bloqueio emocional que ultrapassa os limites de sua escrivaninha. O livro descreve uma longa conversa de bar entre dois sujeitos, o protagonista (escritor) que precisa desabafar uma história de amor e ódio e um interlocutor monosilábico que por quase por acaso ouve a narrativa. Tive a curiosidade de mais ou menos cronometrar as conversas. Descobri que entre whiskeys, charutos e jantares os dois personagens conversaram por aproximadamente quatro ou cinco horas em três encontros em três dias seguidos. Verossímel portanto, mas cansativo. Como o personagem principal é um escritor muito das técnicas do romance e da composição ficcional é descrito no livro, mas isto não chega a comprometer a trama. A história que está sendo contada é, claro, sobre uma paixão destuidora entre o escritor e uma jovem jornalista. Sem ser exatamente pornográfico o livro é repleto de contínuas descrições de trepadas, mas como o tema do livro é mesmo o conflito entre sexo e amor, estas não chegam a ser mecânicas ou repetitivas (um personagem de Borges dizia que os espelhos e o sexo eram abomináveis, pois multiplicavam o número de homens, mas esta é outra história). É um livro fácil de ler, mas a última terça parte é previsível, sabemos mais ou menos como vai se dar o desfecho, mas Begley se esforça para manter algum suspense. Para quem quer se informar um tanto sobre como é o estilo de vida dos ricos e famosos que frequentam "The Hamptons" e arredores e que se hospedam nos melhores hotéis de Paris sem se preocupar com a conta o livro é pleno de detalhes, mas é mesmo um mundo distante e artifical demais para nos deixar comover com as dúvidas, os medos, problemas e ansiedades de seus habitantes.
"Naufrágio", Louis Begley, tradução de Sérgio Tellaroli, editora Companhia das Letras, 1a. edição (2007) brochura 14x21cm, 240 pág., ISBN: 978-85-359-0950-0

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