Noutro dia vi uma bela caixa com um exemplar da edição comemorativa dos 50 anos de Grande Sertão: Veredas nas prateleiras da CESMA. Na hora tive a certeza que ela iria mudar de endereço e enfeitar uma das minhas prateleiras de livros. Li que a editora Nova Fronteira havia publicado ainda no início desta década uma edição digamos definitiva da obra, feita a partir da última edição corrigida pelo próprio autor. Já esta edição comemorativa foi pensada em termos mais eloquentes, para de fato despertar novo interesse por todos os que já conhecem o livro bem como por aqueles que ainda estão por conhecê-lo. A idéia surgiu inspirada pela "instalação" sobre Grande Sertão: Veredas que Bia Lessa preparou ainda em 2006 para a abertura do Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz, em São Paulo. Quem teve a chance de ver esta "exposição" deve ter sido arrebatado de pronto, pois trata-se de um belo trabalho onde vários dos aspectos mais conceituais e herméticos do livro são apresentados visualmente (e auditivamente) de forma muito eficiente e elegante. A instalação tinha vários elementos: o mar das páginas datilografadas de todo o livro, com as marcas de correção feitas pelo próprio autor, pairando sobre nossas cabeças por todo o espaço; as trilhas temáticas a serem percorridas, à vontade do visitante, seguindo o caminho de alguns dos personagens; as pilhas de tijolos e materiais de construção, onde se construiam palavras; os pingos d'água que ondulavam as palavras espelhadas de uma superfície; as "torres de observação", onde o público mirava de longe trechos escondidos do livro, eventualmente filtrados por placas de acrílico; os comentários longos e contínuos de críticos e contemporâneos de Guimarães Rosa, sendo projetados em uma sala totalmente vermelha (como o inferno?); aquele mapa gigante das Minas Gerais, onde os itinerários dos personagens e da história são indicados com precisão; os muitos fios vermelhos amarrando e costurando todos os caminhos e leituras, como restos de fios de Ariadne. Enfim, uma bela exposição (eu vi na verdade uma remontagem dela, no MAM do Rio de Janeiro, mas isto é detalhe besta). Assim, a edição comemorativa incorporou ao livro de Rosa, na forma de um catálogo, a própria instalação. Li e vi o catálogo com imenso prazer, lembrando da exposição, do dia agradável no Rio, onde prometi reler o Rosa (mas quem disse que eu cumpro as promessas feitas quando estou emocionado?). De brinde o catálogo ainda inclui um DVD com depoimentos em audiovisual de Antonio Callado, Antonio Candido, Décio Pignatari, Eduardo Coutinho, Haroldo de Campos, Paulo Mendes da Rocha e Sérgio Sant'Anna, além da leitura por Maria Bethânia de trecho da obra. Um tremendo presente de ano novo, que só agora apreciei de fato. Um produto híbrido que honra na justa medida tanto o trabalho de Bia Lessa e quanto a obra de Guimarães Rosa.
Grande Sertão: Veredas, uma instalação, Bia Lessa, editora Nova Fronteira, 1a. edição (2006) brochura 17x24cm, 216 pág., ISBN: 978-85-209-1887-5
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