domingo, 9 de março de 2008

crônicas marsicanas

Alberto Marsicano é um excelente leitor de poetas difíceis, tradutor de Haikais, John Keats e William Blake, filósofo e músico, mas é melhor conhecido por ter tornado não exótico o Sitar no Brasil ou, melhor dizendo, ter tornado não exótico o Sitar em São Paulo, seu habitat natural. Quem já teve a oportunidade de vê-lo tocar o Sitar nunca se esquece dele: cabelos brancos e longos, olhar etéreo, dedos longos e suaves sobre o Sitar, trajes invariavelmente sempre brancos ou sempre negros. Eu o vi pela primeira vez em um Bloomsday paulista organizado pelo Haroldo de Campos (de quem aliás ele foi amigo pessoal por muitos anos). Este Crônicas Marsicanas, publicados recentemente pela LP&M é um livro curioso, em parte relatos de viagem, em parte caderno de anotação de poemas e traduções, em parte reflexões pertinentes que flertam com a sociologia. Um leitor desavisado pode se interessar por um tópico e abandonar o livro de vez no parágrafo seguinte, repleto de hermetismos. Não é um livro fácil (ele parece fácil, "gozadinho", vamos dizer assim, mas não é nada superficial). Muitos trechos têm indicações de um possível acompanhamento musical, basta você conectar-se no www.marsikano.tk onde dezenas de músicas dele estão disponibilizadas. Há no livro também dezenas de notas e indicações de leituras muito elucidativas. Acredito que há várias formas de ler este livro. Você pode ler apenas as histórias de viagem por lugares normalmente bem afastados do circuito Elizabeth Arden. Ele transita pelo Marrocos, Bombain, Katmandu, Siracusa, Macau, e de repente volta as cercanias da serra da cantareira em São Paulo. Claro que há uma irrelevância total neste livro. Porque afinal queremos dividir suas experiências pessoais, irreprodutíveis de pronto? Talvez pelo prazer de descobrir que cada um de nós pode fazer escolhas e usar seu tempo para viver qualquer história sem se preocupar com as escolhas e padrões dos outros. Cabe o registro aqui de que acho totalmente absurda a fé de Marsicano na existência de outros mundos, outras civilizações, fora deste pobre planetinha que habitamos, mas esta é outra história.
Crônicas Marscicanas, Alberto Marsicano, editora LP&M, 1a. edição (2007) brochura 14x21cm, 168 pág., ISBN: 978-85-254-1686-5

Um comentário:

marcelo sahea disse...

Rarara!
Cético e ético Mr. Guina!
Marsicano é ótimo. O conheci graças ao cd de Haroldo. E agora estamos mais perto graças ao Orkut. 3 vivas para as crônicas marsicanas!
Um abração!