Talvez não seja necessário para nós que vivemos aqui e os conhecemos bem, mas para um visitante desavisado "A Nona Assassina" serve como um bom livro de apresentação de seis autores, seis contadores de histórias. Este sujeito desavisado, mas curioso sobre a produção literária local, encontraria (e encontra de fato) neste livro de contos, seis diferentes formas de contar a vida e de se contar uma história. Os seis: Antônio Ferreira, Antônio Ribeiro, Athos Cunha, Orlando Fonseca, Pedro Santos e Tânia Lopes, têm trajetórias profissionais e pessoais diferentes, talvez mais diferentes que a amizade é capaz de perceber, todavia praticam em comum o ofício de escrever com alguma regularidade e método. No livro encontramos seis ou sete contos de cada um. Antônio Augusto Brum Ferreira conta histórias com cheiro de campo, lembra de causos e passagens curiosas destes pagos do Rio Grande; Antônio Candido de Azambuja Ribeiro se aproxima um tanto da cidade mas passa longe do centro, suas histórias focam a periferia, a vida dura dos que pouco tem, com a lei os acercando, mas cujos sofrimentos têm ainda no campo uma memória doce; nas histórias de Athos Ronaldo Miralha da Cunha encontramos uma classe média engajada, que acompanha a vida política da cidade, mas que tem um cotidiano monótono e frio, escapista; Orlando Fonseca constrói personagens com os quais experimenta mais o estilo, a linguagem, os jogos verbais e incluí um feixe de minicontos curiosos de sua produção; Pedro Brum Santos conta histórias diretas, curtas, reflexivas, com temas e personagens variados, mas que de repente se apresentam indistinguíveis ao leitor; Tânia Lopes traz finalmente um pouco do mundo e das questões femininas, com olhos que mais parecem ver o mundo pela primeira vez, sem preconceitos e idéias pré-estabelecidas, também incluíndo alguns minicontos cifrados. Gostei de ler este conjunto de contos de uma vez só, comparando um tanto os estilos. O livro incluí também um conto escrito por todos eles e que de fato o nomeia. O Athos teve a idéia original de uma velhinha italiana envolvida em um assassinato, escreveu três laudas sobre o tema e passou a trama para os demais colegas. Cada um a seu jeito aceitou caminhos ou inventou reviravoltas, de tal forma que o produto final é um conto realmente produzido a doze mãos. Este procedimento é curioso e coloca a interessante questão de autoria literária para um eventual debate com o leitor. Afinal, quem é mesmo o dono deste conto, o autor deste conto? Exatamente por força deste processo o resultado deste conto em particular não me agradou. Talvez os vários personagens merecessem um pouco mais de tempo para se apresentar, talvez ao mesmo tempo que permita maior criatividade à narrativa o formato engesse demais a trama nas poucas laudas que cada um têm para trabalhar. Não sei. De qualquer forma cabe sempre aos livros se defenderem sozinhos dos maus críticos e dos leitores cruéis. Cabe ainda um registro aqui. A noite de autógrafos deste livro em meados de dezembro passado foi a última atividade pública de Antônio Augusto Brum Ferreira, certamente o escritor mais experiente dos seis autores do livro, reconhecido poeta, letrista, membro de academias literárias, sendo portanto uma espécie de patrono do grupo. Ele morreu pouco tempo depois daquele dia feliz do lançamento (por sorte tenho meu exemplar autografado por todos eles, festa bonita que foi). Por conta disto posso ainda registrar, a meu juízo, que "a nona assassina" acabou ceifando ali sua cota daquele dia, moira funesta que mostrou-se ser.
A Nona Assassina, Antônio Augusto Brum Ferreira, Antônio Cândio de Azambuja Ribeiro, Athos Ronaldo Miralha da Cunha, Orlando Fonseca, Pedro Brum Santos e Tânia Lopes, editora Manuzio, 1a. edição (2007) brochura 14x21cm, 215 pág., ISBN: 978-85-7782022-1
A Nona Assassina, Antônio Augusto Brum Ferreira, Antônio Cândio de Azambuja Ribeiro, Athos Ronaldo Miralha da Cunha, Orlando Fonseca, Pedro Brum Santos e Tânia Lopes, editora Manuzio, 1a. edição (2007) brochura 14x21cm, 215 pág., ISBN: 978-85-7782022-1
2 comentários:
Mestre Guina, fica aqui um grande abraço! Li a Nona e assino embaixo do teu comentário. Quanto a história da Nona propriamente dita, eu esperava uma picardia extra, uma pimenta na polenta. A idéia é boa, a iniciativa é melhor ainda, vamos ver como se saem agora no novo experimento que fizeram.
Ronái meu velho, grato pela mensagem. O importante é que o livro está aí registrando um tanto da produção da cidade. Ainda não li o "Dez Mandamentos". Mas vou comprar e ler minha cota.
Abraços.
Guina
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