Ao contrário do arrebatador "Cosmética del Enemigo" resenhado abaixo este não é um livro escrito por uma mulher, mas ao menos tem uma como sua personagem principal. Portanto Cristina, dê um desconto, pois estou me esforçando para equilibrar um tanto os gêneros neste blog. O autor é Martin Amis, respeitado escritor inglês. Achei este livro em um sebo paulista há tempos. Gostei do livro. Não é um romance policial, mas tem como tema a violência urbana de nossos dias. Uma investigadora especializada em narcóticos é chamada tarde da noite por seu antigo capitão para investigar um suicídio, o suicídio da própria filha deste chefe, pois acredita que ela foi na verdade assassinada. O livro apresenta de forma cronológica os resultados do trabalho desta investigadora. Aos poucos somos apresentados a arqueologia física e psicológica de um suicídio banal (o título do livro é curioso, pois usa a imagem de um trem noturno para identificar aquela sensação horrível que temos em determinados momentos e épocas de nossas vidas, onde fugir de tudo e de todos parece ser a melhor e talvez única solução). O inventário das cousas da mulher morta (uma astrofísica, fazendo pós-doutorado em um grande centro de pesquisas; que se relaciona com um filósofo algo famoso; filha de um militar condecorado) é muito bom de se ler. A investigadora também teve seus fantasmas e uma vida atribulada. O papel da mulher na sociedade competitiva é discutido por Amis com muita propriedade. A solução do enigma do livro é o menos importante: qual a vantagem em sabermos se foi mesmo um suicídio ou um assassinato? Há muitas pistas, achados, reviravoltas, com as quais o autor aproveita para se aprofundar um tanto na descrição de um mundo violento e também no mundo das mulheres que pagam um algo mais na vida por serem livres e independentes. Livro que se lê sem pressa, muito bem escrito. Gostei de umas coincidências pessoais: o livro começa em um 4 de março, como se o mundo pós-suícidio inaugurasse uma nova vida da moça morta, a vida de uma pessoa que está finalmente sendo descoberta pelos familiares e amigos. A física explicada no livro(conceitos de cosmologia, astrofísica, metodologia da pesquisa, vida universitária) está formalmente correta e escrita sem usar chavões e lugares-comuns, ou seja, o autor fez bem sua lição de casa.
"El tren de la noche", Martin Amis, tradução de Eduardo Hojman, Emecé Editores, 1a. edição (1997) brochura 14x22cm, 200 pág., ISBN: 950-04-1775-8
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