Comprei este livro para dar de presente para minha amiga Eliana, mas quem disse que se eu não o visse novamente na CESMA não daria um jeito de comprar outro volume? Foi o que fiz e o li com muito prazer. É um livro confessional, onde se descreve o dia a dia de uma mãe que acabou de perder sua filha e que deve seguir vivendo, enfrentando novos desafios, lambendo as feridas, produzindo e tentando alcançar alguma felicidade. Esta mãe é exatamente a autora do livro: Isabel Allende. Trata-se portanto de um livro muito pessoal, onde a família tem um papel central. Todos os membros de sua família que autorizaram ser citados estão ali, sem pudor, com suas qualidades e defeitos, suas fragilidades e valores. Lembra um tanto Rosa Montero, mas é certamente menos cerebral e experimental que aquela. Além da descrição de como a família aceitou a morte de sua filha Paula, encontramos no livro muito da rotina de quem vive e trabalha nos Estados Unidos, do mercado livreiro de lá, de como os tabus sexuais, profissionais, pessoais e coletivos podem e devem ser enfrentados, das obsessões de cada membro da família, da espiritualidade e dos diferentes graus de misticismo com o qual todos daquele grupo convivem. Claro, qualquer pessoa que tenha experimentado uma perda importante e esteja disposta a discutir formas de elaborar o luto vai encontrar neste livro muitas reflexões interessantes, mas não se lê com prazer este livro apenas por conta disto. É um livro onde o mundo das mulheres ganha uma evidência especial, onde os homens são sim importantes e companheiros, mas são sempre afastados de propósito do centro da discussão, como se as mulheres devessem chamar para si responsabilidades especiais na sociedade moderna. Não sei se nós, homens e mulheres, homo sapiens sapiens deste início de século XXI ganhamos algo com isto, mas de qualquer forma é um belo livro, que se lê com vagar e muito prazer.
La suma de los días, Isabel Allende, Editorial Sudamericana (1a. edição) 2007, brochura 16x25, 363 págs. ISBN: 978-950-07-2859-1
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