domingo, 7 de dezembro de 2008

solo

Vamos a ver. Se é que eu me lembro bem, durante a feira do livro de Porto Alegre vi uma entrevista com o autor deste livro, o Juremir Machado da Silva, onde ele dizia que três mulheres já haviam entendido seu livro Solo, uma com oitenta anos e as outras duas com quinze. Era uma "boutade" deste tipo. Acho que li este livro só por conta desta frase, fazer o quê? Trata-se de um romance onde o autor tenta nada discretamente defender algumas teses sobre nossa sociedade moderna: sua "balcanização", sua irrelevância, sua "espetacularização". No livro a ironia e o cinismo dominam do princípio ao fim. A cultura de massas é mesmo uma tragédia. Acompanhamos as venturas de um sujeito obcecado por televisão, por literatura de auto-ajuda, por caminhadas de auto-conhecimento, por psicologia de almanaque, por gauchismo e que tenta alcançar uma eventual redenção intelectual. A frase mais longa do livro deve ter 15 ou 20 palavras, nada que um aluno aplicado em oficinas pedestres de literatura não aprenda na primeira aula ou que um pateta qualquer não consiga ler sem perder o fio da meada. Aprendemos o óbvio: é fácil emular uma tolice como Paulo Coelho, inventar rotas místicas e dar sentido a qualquer bobagem inventada em minutos, convencer leitores cretinos de qualquer coisa, se imbecilizar nestes tempos bicudos. O personagem principal do livro vaga pelo Brasil (em uma tediosa história psicanilizada do Rio Grande do Sul), depois pela França, Roma, Veneza e por fim pelos altiplanos peruanos (onde se ri das possibilidades místicas de um deserto), retornando aos pagos gáuchos. Claro, o livro é bem escrito, articulado, moderninho, mas acho que muito poucos dentre os leitores acostumados com as platitudes da literatura contemporânea perceberão que é possível escrever livros de auto-ajuda a partir de qualquer bobagem que faça sentido, utilizando os elementos mais díspares e desconexos (se é que é este mesmo o projeto do livro, pode ser que a pretensão dele como escritor seja outra.) O ano está terminando e eu já esgotei minha cota de livros descartáveis faz tempo, preciso focar melhor, parar de ler qualquer coisa que me caia nas mãos. Vamos em frente. O "Tumbas" em espanhol chegou e vou terminar o ano com ele, revisitando os mortos.
Solo, Juremir Machdo da Silva, Editora Record (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 367 págs. ISBN: 978-85-01-07833-9

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