terça-feira, 21 de abril de 2009

playback

Por sugestão de um amigo meu resolvi experimentar este Raymond Chandler. De fato apesar de ter lido muitos romances policiais nunca havia experimentado Chandler, conhecido como um mestre neste ofício. Claro, eu já o conhecia através do cinema, pois é de Chandler a criação do detetive particular Philip Marlowe, interpretado por Humphrey Bogart no "Falcão Maltês", filme que já vi um bocado de vezes. Este "Para sempre ou nunca mais" é a tradução de um original publicado em 1958 simplesmente como "Playback" (vá saber porque a editora resolveu usar este título português). Em duas páginas todos os clichês que usualmente associamos aos livros de detetive já são utilizados: uma loura fatal, um detetive entediado com um cigarro fumegante preso no canto da boca, uma sucessão de frases espirituosas e cortantes sendo trocadas entre os dois, uma ameaça de chuva, uma gabardine cinza que esconde as curvas (certamente voluptuosas) da loura, uma requisição enigmática dos serviços do detetive. Tudo muito cinematográfico, visual. Claro, o sujeito praticamente reinventou este estilo de literatura e impregnou todas as gerações futuras de cinéfilos com estes signos. É um livro que se lê de um fôlego só. Tudo acontece muito rapidamente, mas há também alguma reflexão sobre a condição humana, sobre Deus e a fé, principalmente. O detetive é contratado para seguir uma moça e logo chega a um hotel de luxo na fronteira dos Estados Unidos com o México. Aparentemente ela foi acusada de assassinato em um estado do meio oeste americano. Vários outros sujeitos também estão no seu encalço, sujeitos que não hesitam em usar de violência e até matar quem se interpõe entre eles e a moça. Ela é uma sobrevivente, portanto tampouco hesita em utilizar-se da mentira e da sedução para se safar. O detetive Marlowe parece sempre estar um passo atrás da ação e das peripécias da moça mas no final (claro!) vai ser a peça chave no desfecho da trama. Livro tranquilo de se ler, na verdade o sujeito escreve mesmo muito bem. Dei boas risadas mas há que considerar que este mundo glamuroso com sua ética e moral próprios, de sessenta, setenta anos atrás, não existe mais. No mundo de hoje, muito mais cínico e devasso, povoado por Bushs e Madoffs, Sarneys e Collors, Tarsos e Protógenes, Castros e Chavez, Lulas e outros medíocres de plantão, o mal cheiro é muito mais intolerável. [início 19/03/2009 - fim 20/03/2009]
"Para sempre ou nunca mais", Raymond Chandler, tradução de Pedro Gonzaga, editora LP&M (1a. edição) 2007, brochura 11x18, 176 págs. ISBN: 978-85-254-1705-3

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