quarta-feira, 1 de abril de 2009

firmin

Comprei e li este livro por impulso. Eu já estava envolvido em outras coisas mas a idéia de um livro cujo personagem principal era um rato me interessou. Claro, eu ainda estou com a memória fresca com a leitura do excelente "Eu sou um gato" de Natsume Soseki. Mas a comparação não é nada favorável a este Firmin, de Sam Savage. Não que o livro seja ruim. É um bom livro, bem escrito, mas falta algo de transcendental nele. Acompanhamos a curta vida de um rato da periferia da Boston (Massachusetts) dos anos 1960. O rato é o décimo terceiro de uma ninhada e por conta da dificuldade de conseguir leite materno (sua mãe somente tem doze tetas) aprende a consumir o papel dos livros picados sobre os quais nasceu. Por acaso este livro era um poderoso Finnegans Wake de James Joyce. Aos poucos o rato aprende a ler e desenvolve uma inteligência superior, mas seu corpo franzino não garantirá que ele "domine o mundo", como um outro rato, Cérebro, de um desenho animado simpático, acreditava ser possível conseguir. A vida do rato é uma metáfora das possibilidades que uma boa educação trás (tanto as boas: o alargamento dos horizontes e a compreensão do mundo; quanto as más: o isolamento e decepção com seus semelhantes). Trata também da rapidez com que as mudanças nos alcançam e nos modificam. Fermin cresce e consome sem ordem ou projeto uma infinidade de livros, alcançando uma invejável capacidade de entender o mundo dos homens. O mundo que o cerca é decadente (um sebo de uma região degradada - uma praça real, chamada Scollay, que será logo demolido) e cruel (seus "conhecidos" são bêbedos, prostitutas, loucos, deserdados). Quando o prédio onde nasceu e viveu é demolido ele fica sem lar e sem razão de viver. Seus últimos minutos são dedicados a saborear mais algumas páginas de seu ninho, mais algumas páginas do Finnegans de James Joyce. Divertido afinal, mas eu ainda prefiro o lirismo alcançado por Soseki com seu gato. [início 05/02/2009 - fim 22/02/2009]
"Firmin", Sam Savage, tradução de Bernardo Ajzenberg, editora Planeta (1a. edição) 2008, brochura 14x21, 244 págs. ISBN: 978-85-766-5385-1

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá!
Como sempre, adorei tua resenha do livro! Parece ser muito tri, ao mesmo tempo divertido, por ter um rato como protagonista, e dramático, por abordar de maneira analógica os problemas da educação e do mundo em que vivemos.

Tudo de bom!
Abraço!