Em "Marilyn e JFK" acompanhamos a história de duas pessoas que no fundo foram bastante tristes: John Fitzgerald Kennedy, trigésimo-quinto presidente americano, assassinado em 1963, que tornou-se um ícone da política e da cultura do século XX e Marilyn Monroe, atriz americana, que igualmente tornou-se um ícone da cultura pop ainda em vida e plenamente imediatamente após sua morte, em 1962. Apesar de gostar muito de cinema americano (sobretudo as cousas do Woody Allen e do Clint Eastwood) e de música americana (sobretudo jazz e rhythm and blues), quase tudo o que aprendi de fato sobre a cultura americana veio dos livros (lendo sujeitos como William Faulkner, Gore Vidal, Philip Roth, John dos Passos, Dorothy Parker, Saul Bellow - canadense, confesso - Isaac Singer e Edmund Wilson) e veio de jornais (principalmente da leitura sistemática dos artigos do Paulo Francis e do Ivan Lessa). Depois aprendi um bocado com dois físicos: o Frank Missell, meu orientador, um americano que radicou-se no Brasil há muito tempo e o Adalberto Fazzio, um brasileiro que conviveu muito com americanos. É difícil sintetizar o que entendemos de um povo inteiro, se é que isto é realmente possível. São tantas as nuances, os contextos, ou a forma como evoluem as informações e os fatos. Ao visitar o Frank recentemente ele emprestou-me com entusiasmo este livro sobre Marilyn Monroe e John Kennedy. O formato lembra um tanto o Plutarco no seu "Vidas paralelas". Toma-se dois sujeitos e conta-se suas histórias comparando-as nas afinidades e nos desacertos. O livro é muito bem escrito, em linguagem direta, ágil, rapidamente demonstrando o que é factual e o que é especulação pessoal do autor. Através de Gore Vidal eu já tinha aprendido que o Kennedy mítico vendido nas barraquinhas de massificação cultural era mesmo uma farsa, mas François Forestier dá a ele tons ainda mais sombrios. Kennedy parece um Fausto moderno, um sujeito que vende sua alma por uma coisa imaterial, sem ter muita consciência de seus atos, de seus movimentos, de seus desejos. Marilyn por seu turno transparece ao final do texto de Forestier ainda mais patética e boçal do que eu lembrava. Ela se comporta como uma versão feminina do mesmo Fausto da lenda alemã, mas sem saber exatamente com quem e porque afinal está negociando sua alma. Permanentemente alterada pelo álcool e as drogas flana sem rumo o tempo todo. Bueno. O livro começa com um prelúdio, onde se descreve o assassinato de Kennedy em Dallas. Depois, após alguns capítulos onde se alternam as histórias de ascenção de Marilyn e Kennedy, seguimos capítulos vertiginosos onde as duas histórias se entrelaçam. Os dois pareciam mesmo apostar uma corrida contra a morte, ela mais melodramática, trágica, ele mais olímpico, hiperativo. O livro inclui um censo das pessoas que gravitaram em torno dos dois (e que na prática apagavam continuamente seus rastros de trapalhadas infinitas). São relatos breves onde se descreve as circunstâncias da morte de cada um destes coadjuvantes. É interessante. A lista de referências bibliográficas é enorme. São 126 referências para um livro de 214 páginas, um excesso, apesar de poder facilitar a vida de um leitor curioso. [início 20/01/2009 - fim 22/01/2010]
"Marilyn e JFK", François Forestier, tradução de Jorge Bastos, editora Objetiva, 1a. edição (2009), brochura 16x23 cm, 214 págs. ISBN: 978-85-7302-937-6
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