Este livro usa a clássica psicologia inversa (se é que alguma criança ainda se convence de algo com um truque deste calibre). Fernando Bonassi conta a história de uma criança que do útero aos primeiros contatos na pré-escola só é capaz de pensar em si mesmo. Não importa quem é o prejudicado: seus pais, seus irmãos, os parentes, os vizinhos, os colegas da escola, já que o pequeno fascista sempre vai tentar governar as vontades dos demais. Trata-se de um livro bem humorado, onde o autor conversa com o leitor tentando explicar como opera um sujeito assim, explicitando didaticamente boa parte de seus truques. Da forma como ele apresenta o fenômeno fica-se com a impressão que ser fascista é algo inato, mas o certo seria pensar em uma maior influência da educação e do meio no caráter de nossos filhos. Claro, podemos ler o livro como uma ferramenta contra a ilusão em que a maioria das pessoas embarca: a de que as crianças são seres angelicais, amorosos, boníssimos, quando é exatamente o contrário, o que um jovem homo sapiens sapiens faz é reclamar sua prescedência sobre todos os demais, sempre. O homo sapiens sapiens é mesmo cruel, agressivo, inconstante, egoísta, covarde, mentiroso, preconceituoso e torpe, e foi por isto que sobreviveu neste planeta inóspito. O livro é muito bem ilustrado por um sujeito chamado Daniel Bueno. Dar este livro de presente para o filho pode trazer aborrecimentos, já que dificilmente pais aceitam a idéia de que estão criando um pequeno fascista. Talvez o certo fosse presentear diretamente eles, os pais, e esperar que o livro cumprar sua função saneadora. Interessante livro, bom mesmo, principalmente em um país de analfabetos que atualmente é governado, e mal, por um legião de fascistas. [início 27/04/2010 - fim 27/04/2010]
"O pequeno fascista", Fernando Bonassi, ilustrações de Daniel Bueno, editora CosacNaify, 1a. edição (2005), brochura 16x23 cm, 64 págs. ISBN: 978-85-7503-373-5
2 comentários:
O simplismo do autor invade o universo infantil, atravessa o universo adolescente, impõe-se, manipulando o maniqueísmo que contamina, intencional e covardemente, a microcosmovisão do adulto imaturo e despreparado. Quem protegerá nossas crianças de tanta simultânea sandice?
afinal, o livro é indicado ou não?
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