Inegavelmente os livros de Andrea Camilleri sabem proporcionar bons momentos. Os personagens fixos são conhecidos e sem muitos matizes, a trama é sempre arrumada para alcançar um fim naturalmente previsível (o comissário Salvo Montalbano irá decifrar qualquer enigma que seja apresentado a ele, claro), mas Camilleri consegue dar ossatura, uma espécie de estofo de sofisticação, às suas histórias. Nesta história em particular uma mulher aparece morta como por acaso (o carro onde o comissário Montalbano estava se envolve em um acidente e ele fareja algo estranho em um pequeno chalé das redondezas). Boa parte do livro serve para postergar uma resolução que é quase óbvia. A investigação, a autópsia, a apresentação dos eventuais suspeitos, as trilhas e pistas cifradas oferecidas aos leitores, as curtas passagens onde os personagens fixos de Camilleri (uma legião afinal: Augello, Fazio, Gallo, Galluzo, Tortorella, Grasso e, claro, Catarella) ganham algum relevo, quase tudo é acessório. Montalbano se mostra um político habilidoso, que sabe manipular todos que o cercam, colegas, colaboradores e principalmente seus detratores e inimigos. O espírito de grupo que ele insufla em seus comandados é algo digno de nota. A versão original deste livro é de 1997. Camilleri (em sua quarta história com Montalbano ) demonstra claramente que se esforçava em torná-lo mais complexo e interessante. Após estas longas sessões introdutórias eis que um violino é introduzido na história e aí não há mais como não descobrirmos a verdade dos fatos. É uma leitura divertida, mas descompromissada como livros deste tipo devem ser, leitura tranquila para estes dias cinzas de inverno. [início 08/08/2010 - fim 10/08/2010]
"La voz del violín", Andrea Camilleri, tradução de María Antonia Menini Pagés, ediciones Salamandra, 1a. edição (2002), brochura 11,5x18 cm, 254 págs. ISBN: 978-85-7888-738-5
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