"Terceira sede" reune dez elegias de Fabrício Carpinejar. Elegia é uma forma poética que se presta a vários efeitos. Usualmente enfeixam poemas melancólicos e reflexivos, que pensam de alguma forma a morte. Carpinejar as publicou há dez anos, quando ainda era um poeta formalmente jovem, de menos de trinta anos. Ele emula um sujeito, uma encarnação sua, já aos 72 anos, em 2045, que discute sua condição e sua história, que analisa seu entorno e seu coração. O efeito é muito bom. Aprendemos rapidamente a olhar com os olhos de seu vetusto personagem. Li com a calma que os dias vagabundos de verão permitem. Acredito que hoje Carpinejar se permitiria um tom mais jocoso, algo como Bob Fosse fez, fazendo um personagem seu perguntar-se se a morte era ou não boa de cama. Isto talvez tornasse seu personagem um senhor menos solene e moral. Mas como ele fala com uma moral em construção, uma moral que compartilha com o leitor, não nos aborrecemos nada com isto (e de resto o livro foi publicado em 2001 e agora deve sempre se defender sozinho, pois pouco sabe da encarnação atual de seu autor). Enfim, terceira sede é um livro muito bom. Além de um bom prefácio de Luís Augusto Fischer o livro inclui nas orelhas uma apresentação de Carlos Heitor Cony. O único reparo que faço a esta reedição da Bertrand Brasil são as 16 laudas de elogios e homenagens às elegias, publicados todos eles na época do lançamento. Nem o livro, nem o autor, certamente hoje ainda mais seguro de si que há dez anos, não precisam deste cabotinismo tolo. Paciência. [início 19/01/2011 - fim 01/02/2011]
"Terceira sede: Elegias", Fabrício Carpinejar, Rio de Janeiro: editora Bertrand Brasil, 1a. edição (2009), brochura 13,5x21 cm, 96 págs. ISBN: 978-85-286-1384-1 [edição original: editora Escrituras (São Paulo) 2001]
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