Encontramos neste "Una casa para siempre", como sempre nos livros de Enrique Vila-Matas, um território de invenções e meias verdades. Claro, podemos seguir o narrador e confiar em suas descrições, nos diálogos que ele grafa, mas logo começamos a nos perguntar se tudo não é falso, se não nos foi dada alguma chave errada para interpretar o enredo, a história. Há poucas doses de intertextualidade neste pequeno livro, publicado originalmente em 1988. Quer dizer, pouco comparado com o usual em Vila-Matas. É importante registrar isto pois nos outros livros dele que já li o que não falta são citações, paródias, pastiches e outras invenções, para não dizer mentiras pura e simplesmente, que ele inclui sem pudor. Tudo isso enriquece seus livros e cobra do leitor uma agilidade dos diabos. Aqui a busca por uma voz narrativa coerente se dá na própria história e não através de seus truques literários típicos. "Una casa para siempre" é um romance curto feito de fragmentos de uma história de vida, um romance feito com memórias fragmentárias e contraditórias de um sujeito. São doze os fragmentos. Uns curtos, breves, feitos apenas de causos que parecem não se conectar com a história principal. Outros são mais longos e se referem as tais memórias do sujeito, um ventríloquo (uma boa metáfora para aqueles que se dedicam ao ofício de escrever) que primeiro tem dificuldade de multiplicar suas vozes (o ideal seria ter vozes distintas para cada personagem que emula); depois alcança fama e fortuna no domínio de sua arte; até por fim encontrar uma única voz, a sua própria, em um país exótico, onde se torna uma espécie de contador de histórias, um aedo, um bardo. Uma das pistas falsas de Vila-Matas é nos entreter, como em um romance policial, com a possibilidade do ventríloco ter morto ou não o amante de sua mulher. Os conflitos típicos das jornadas de iniciação, das jornadas dos heróis, embora embaralhados como em um puzzle, estão no texto. Perturbador sim, mas essencialmente divertido afinal de contas. Haverá mais Vila-Matas por aqui. [início 15/01/2011 - fim 30/01/2011]
"Una casa para siempre", Enrique Vila-Matas, Barcelona: editorial Anagrama (colección compactos), 2a. edição (2008), brochura 13,5x20,5 cm, 141 págs. ISBN: 978-84-339-6712-1 [edição original: Anagrama (narrativas hispánicas), 1988]
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