Meses atrás don @hugocrema falou-me de Ryūnosuke Akutagawa, nome que eu desconhecia quase completamente. Já mais recentemente, no início deste ano, organizei um produtivo safari literário paulicéia adentro e lá acabei encontrando - entre outras maravilhas - "Kappa e o Levante imaginário". Akutagawa suicidou-se com 35 anos, em 1927, e chegou a publicar cerca de 150 contos. Descobri que ele é ainda hoje um autor muito respeitado no Japão. Este livro, bem editado pela Estação Liberdade, reúne onze contos, publicados originalmente entre 1915 e 1927 (Kappa, Rashomon, O nariz, Destino, Os salteadores, Inferno, Dragão, As laranjas, A mágica, No matagal, Rodas dentadas. "No matagal" (Yabu no Naka) deve ser sua história mais conhecida, pois o premiado filme Roshomon, de Akira Kurosawa, é baseado nela. De fato é uma história contada com muita precisão (curiosamente não são os fatos terríveis que importam, mas sim a psicologia e o ânimo das personagens que conquistam o leitor). A seleção de contos é realmente muito boa. Gostei especialmente de "Inferno" (um conto que fala da soberba, vaidade e arte); "As laranjas" e "A mágica" (duas pequenas jóias, que constrastam realidade e sonho, tristeza e alegria, histórias tiradas de cousas cotidianas, que transcendem como por mágica) e "Os salteadores" (uma movimentada história guerreira, de traição e morte). Enfatizo esses, não que os demais sejam contos menores. "Dragão" e "O nariz" são divertidas parábolas morais, ; "Kappa" e "Rodas dentadas" são bastante inventivos, esse último por descrever (autobiograficamente talvez) uma profunda depressão, aquele por apresentar ao leitor um mundo imaginário que decalca a realidade; "Roshomon" e "Destino", são sufocantes, pois cobram leituras sem intervalos. Grande escritor. [início 10/01/2012 - fim 21/01/2012]
"Kappa e o Levante imaginário", Ryūnosuke Akutagawa,
tradução de Shintaro Hayashi, São Paulo: editora Estação Liberdade, 1a.
edição (2010), brochura 14x21 cm, 346 págs. ISBN:
978-85-7448-193-7 [edição original: 河童 Kappa (Tokyo, Japão), 1927]
4 comentários:
(Saul Bellow???)
olá Charlles
não entendi?
de onde veio a associação com Saul Bellow?
abraços
aguinaldo
Quis perguntar sobre a gritante ausência de Bellow em seu blog. Procurei e não achei. Há muito de Roth. Desculpe a intromissão, mas fico curioso quanto às impressões de leitura que te provocariam autores como Bellow, e Pynchon.
Abraço.
Olá Charlles, como vais?
A resposta é simples. Eu li Saul Bellow nos anos 1980 e 1990, da mesma forma que já li todo o Willian Faulkner, John Updike, Ernest Hemingway e Gore Vidal que me cabia (para ficar nos americanos). As resenhas do "livros que eu li" estão em ordem cronológica, são coisas que eu li de janeiro de 2007 para cá. Eventualmente releio coisas (como o Proust recentemente) e faço uma resenha, mas não tenho planos de fazer registros das leituras que fiz no período anterior a 2007. Quem sabe em uma época mais vagabunda eu consiga ao menos transcrever as listas dos livros lidos no passado (que guardo, claro, compulsivo que sou) e eventualmente falar das impressões que me restaram da leitura deles. Veremos. E só para constar: Do Bellow, lembro que gostei muito do "A mágoa mata mais" e "O Planeta do Sr. Sammler". Abraços.
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