quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Joseph Roth alcançou publicar "Jó: Romance de um homem simples" ainda na Alemanha, em 1930, antes da ascensão do nazismo e de seu exílio na França. A versão original dessa história é a que encontramos na Bíblia e talvez seja uma das mais antigas já registradas pelo homem. Como se sabe trata-se de uma história de provação, onde se fala sobre os limites da fé e da convivência com o mal absoluto, assim como das futuras recompensas reservadas àqueles que praticam o bem e seguem fielmente a crença em Deus. Na versão alegórica de Roth acompanhamos os sofrimentos de Mendel Singer, um judeu russo que vive como professor numa modesta aldeia. Pai de dois filhos quase adultos (Jonas e Schemariah) e de uma bela garota adolescente (Miriam), Mendel vê no nascimento de um quarto filho, seu caçula Menuhim, que é frágil e provavelmente epilético, uma espécie de provação de sua fé (similar aquela experimentada pelo Jó bíblico). Por apenas concentrar-se em sua religião e na doutrina que ensina às crianças da aldeia, Mendel não percebe as rápidas transformações de seu tempo. A Rússia está envolvida em uma guerra com o Japão e seus filhos, por serem saudáveis e fortes, certamente serão recrutados para o serviço militar. Débora, sua mulher, o despreza, sobrevive pela crença na previsão feita por um rabino local de que seu fraco Menuhim crescerá normalmente e um dia alcançara a glória e o sucesso. Mendel tenta evitar o recrutamento de seus filhos mais velhos e vê angustiado a impossibilidade de casamento e vida digna para sua filha. A possibilidade de emigrar para a América é um sonho distante. A crença na recuperação do filho caçula ainda mais fantasiosa. Roth faz seu personagem passar por sofrimentos sem fim e mescla à história de Jó algo da de José (o filho de Jacó e Raquel que é exilado no Egito e redime toda sua família e tribo). O leitor antecipa um bocado destes desdobramentos, por mais que Roth invente reviravoltas e trapaças (afinal ele é, como escritor, uma versão tão vingativa e poderosa quanto o Deus do velho testamento). Todavia o livro é bem escrito e descreve com detalhes hábitos e práticas de um judeu ortodoxo, tanto na Rússia czarista quanto nos Estados Unidos dos tempos da primeira grande guerra. Bom livro. 
[início: 21/08/2015 - fim: 28/08/2015]
"Jó: Romance de um homem simples", Joseph Roth, tradução de Laura Barreto, São Paulo: editora Schwarcz (Companhia das Letras), 1a. edição (2008), brochura 14x21 cm., 196 págs., ISBN: 978-85-359-1309-5 [edição original: Hiob: Roman eines einfachen Mannes (Berlin: Kiepenheuer) 1930]

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