"Um pouco mais ao sul" não é para leitores sensíveis, românticos em busca de entretenimento fácil, finais felizes, seres acostumados a narrativas descartáveis. Luiz Rebinski povoa seu romance com personagens sujos, amalucados, drogados, hiper sexualizados, em transe, visceralmente comprometidos com uma única causa, a de se conhecerem, desvendarem seu passado, entenderem-se uns aos outros. O narrador alterna duas histórias que em algum ponto se fundem. Primeiro ele nos apresenta dois irmãos, Vlad e Nóia, perseguidos por desconhecidos pelos subterrâneos e esgoto do Rio Ivo, em uma Curitiba fria e sufocante. Posteriormente o leitor é apresentado à Inácio, um terceiro irmão, que junta-se aos dois numa alucinante fuga, Paraná profundo adentro. A segunda história é de um antepassado deles, mais precisamente, do avô polaco deles, Bazyli, que radicou-se no Brasil após muitos sucessos, cruzando o Atlântico com um amigo, Volkov, e sua amante, a Gorda. O leitor é levado a rir dos desastres, tiroteios, bacanais, diálogos engraçados, enfim, do sarcasmo e inusitado da cousa toda. Com sua alegoria, repleta de citações cinematográficas e ricos registros linguísticos, Rebinski alcança provocar reflexões interessantes sobre como o homem contemporâneo confronta sua história de vida, equilibrando realidade e sonhos, planos e a inevitabilidade do acaso, o conforto do convencional e os perigos daquilo que é intuitivo, vivo. A ritmo do livro lembra muito "Medo e delírio em Las Vegas", de Hunter Thompson, o episódio "Circe", no Ulysses, de James Joyce e o "B*****", de Luciano Bittencourt. Divertido.
[início: 07/03/2017 - fim: 25/04/2017]
"Um pouco mais ao sul", Luiz Rebinski, Curitiba/PR: Edições, 1a. edição (2016), 13x19 cm., 214 págs., ISBN: 978-85-917171-3-2
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