Ler e ver os poemas de Joan Brossa sempre é um assombro. Já registrei aqui os "99 poemas" traduzidos por Ronald Polito e editado pela Demônio Negro. Nesta seleção, organizada por Vanderley Mendonça, que é também o tradutor, encontramos 23 poemas visuais; 31 poemas escritos (acompanhados dos originais em catalão) e 17 poemas-objeto. O que são "poemas escritos" não precisa ser explicado, muito embora sempre pode ser controversa a interpretação de um poeta sobre a natureza de seu jogo, seu ofício, sua leitura da realidade, sua interpretação do mundo. Grosso modo pode-se dizer que nos "poemas visuais" texto, imagens e símbolos são organizados de tal forma que é o elemento visual que tem função organizacional na obra,
eventualmente até prescindindo de símbolos de escrita para sua
caracterização como poesia, afastando-se da linguagem que pode ser vocalizada. E, por fim, "poemas-objeto" são, na acepção de Brossa, poemas que não geram linguagem, que suprimem completamente a linguagem, uma variante mais selvagem dos poemas visuais. A edição incluí ainda dois bons prefácios. Um é assinado por Haroldo de Campos. Ele conta como foi que João Cabral de Melo Neto fez a poesia de Brossa ser conhecida no Brasil e de como os poetas concretistas brasileiros mantiveram produtivo contato com ele até sua morte, em 1998. O segundo é assinado por Glòria Bordons, especialista em sua obra, organizadora de vários livros sobre ele e por um período responsável pelos guardados da Fundació Joan Brossa. Ela apresenta uma curta biografia do poeta catalão e explica algo de seu caráter único, heterodoxo, não comprometido com modismos e tendências, louva sua poesia e atitude, canta o quão irrelevante para ele eram definições de gênero, de fronteira entre as artes, a classificação das formas. Vale a pena gastar um tempo e apreciar sua poesias visuais nesta aba do site da Fundació. Visca Brossa! Visca Catalunya!
Registro #1210 (poesia #86)[início: 10/07/2017 - fim: 05/08/2017]
"Poesia vista", Joan Brossa, tradução de Vanderley Mendonça, São Paulo: Ateliê Editorial, 1a. edição (2005), capa-dura 14,5x21,5 cm., 124 págs., ISBN: 978-85-7480-290-5 [edição original: Glòria Bordons / Poemes escollits (Barcelona: Edicions 62) 1995]
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