segunda-feira, 31 de agosto de 2020

a lua é um balão

Já li "A lua é um balão" um bom número de vezes. Os causos e fragmentos de memória reunidas nele tornaram-se em certa época boa parte de meu cancioneiro de contador de histórias. David Niven nasceu em 1910 e morreu em 1983, fez mais de 90 filmes e ganhou um Oscar, o de melhor ator, em 1958. Alcançou muito sucesso na vida, mas não sucesso gratuito, pois sempre foi muito diligente e trabalhador. No livro ele fala de sua vida, desde a infância até basicamente os anos 1960, quando saiu dos Estados Unidos e passou a viver no sul da França (existe um segundo volume de suas memórias, "Mulheres de classe, cavalos de raça", que é tão divertido quanto este, onde explora mais os filmes que fez após esta volta à Europa e as últimas duas décadas de sua vida). O tom de "A lua é um balão" sempre é bem humorado, mesmo quando ele fala de suas dificuldades, seus fracassos, suas perdas. Niven conta sobre seus anos de formação, inicialmente em colégios de elite inglesa, muito embora ele não fosse um exemplo de estudante; de sua iniciação sexual; da derrocada financeira de sua família, com a morte de seu pai na primeira grande guerra; de sua formação militar e vida no exterior; de como emigrou para os Estados Unidos, tornou-se um vendedor de whisky e acabou entrando quase por acaso no mundo do cinema; dos filmes que fez, na época em que o cinema era onipresente no imaginário popular; de seu reengajamento militar, para servir na segunda grande guerra; dos altos e baixos de sua carreira; de seus muitos amigos e família. Não me atrevo a tentar resumir a vida movimentada de um sujeito como ele em uma resenha ligeira como essa. O que sempre me impressiona neste livro é o tom do registro, mesmo quando o assunto é delicado ou até constrangedor Niven alcança manter o leitor preso a narrativa. Com estoicismo ele enfrenta tanto a sedução do limite, da hybris grega, quanto as derrotas e fracasso. Talvez este seja o mais precioso ensinamento que ganhei na primeira leitura e que poupou-me nestas últimas quatro décadas de sofrer muitos aborrecimentos. Grato por isto, David Niven. Grato. Vale! 
Registro #1561 (perfis e memórias #99)
[início: 01/07/2020 - fim: 11/07/2020]
"A lua é um balão", David Niven, São Paulo: Nova Época Editorial, 2a. edição (1975), brochura 14x21 cm, 336 págs., sem ISBN [edição original: The Moon's a Ballon (London: Hamish Hamilton) 1971]

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